Famílias atendidas no programa de desfavelamento e em cotas de atendimento social para assumir apartamentos do residencial São Bento, na zona sul de Marília, já estão ameaçadas de despejo. O motivo: custo da taxa mensal de condomínio.
O valor para pagar manutenção dos prédios e serviços de portaria chega a ser cinco vezes maior que a parcela do financiamento, calculada de acordo com a renda das famílias sorteadas.
Em alguns casos, famílias selecionadas para pagar R$ 25 pela casa própria precisam pagar R$ 182 por mês para manutenção dos prédios.
O resultado: casos graves de inadimplência, famílias que já devem quase R$ 1.000 só em condomínio. O débito provoca cobranças e até ameaças de despejo, segundo moradoras que procuraram o Giro.
A taxa de condomínio é obrigatória e a falta de pagamento permite até ação judicial para leilão das unidades devedoras. É o valor usado para gastos com áreas e serviços de uso comum, como pagamento de porteiros, limpeza, segurança e manutenção.
“O problema não é que a gente discorde ou não queira pagar. É que não tem como pagar esse valor. Se a Caixa disse que eu não posso pagar mais do que R$ 25 de prestação, como é que vou pagar R$ 182 de condomínio”, disse uma das moradoras.
Ela não está sozinha. O problema já atingiu dimensão que deve provocar nos próximos dias um encontro com assistentes sociais para discutir soluções. Desde que o condomínio foi entregue, em 2016, já foram feitas seis cobranças da taxa. Há casos de moradores que só pagaram a primeira.
O custo mais alto é o de mão de obra com portaria, segurança e limpeza. O condomínio de 816 apartamentos envolve 51 torres divididas em três condomínios diferentes, com portarias independentes e áreas sociais exclusivas, como salão de festas, playground, quiosque para churrasco e quadra poliesportiva.
Dos 816 apartamentos, 82 foram destinados para mulheres chefes de família, 41 para idosos, 25 para deficientes físicos, 51 para inscritos no programa de desfavelamento e 90 para os atendidos em projetos sociais.
Uma das moradoras ameaçadas pela cobrança integrava este projeto. “Eu estava em abrigo. Como é que vou fazer se tiver que sair daqui? Vou para onde?”
Ela disse que já procurou a Defensoria Pública em Marília mas nem chegou a ser atendida por um defensor. “A gente passa por um acolhimento antes. No acolhimento uma moça falou que foi aprovado pelos moradores, que não tem o que fazer. Mas tem gente que saiu da favela e está com cobrança, com medo de perder o apartamento.”