Marília

Tem dias mais difíceis, quero que acabe – Vítima expõe desafios após violência doméstica em Marília

Tem dias mais difíceis, quero que acabe – Vítima expõe desafios após violência doméstica em Marília

“Tem dias que são mais fáceis e dias mais difíceis. Fui dormir mais cedo para ter um bom descanso, tive vários pesadelos com o agressor. A sensação é tão horrível que parece que o corpo fica mais cansado ainda”.

O relato é de Mylena Desirre Mendes, vítima de violência doméstica em ataque em Marília que deixou fratura no nariz, lesões diversas no rosto, necessidade de uma cirurgia e muitos desafios pós-agressão.

A divulgação do ataque, de uma campanha de auxílio para a cirurgia e de muitos relatos pessoais de Mylena criou uma corrente de informação que se multiplica em redes sociais e pode ajudar mulheres em diferentes locais. 

Ajuda a enfrentar desde o momento do ataque. A reação e os dias seguintes, fáceis ou difíceis. Também divulga campanhas de interesse, como um abaixo-assinado pela prisão de agressores em caso de descumprimento de medias protetivas.

“Tive crise de ansiedade durante a madrugada, achei que ia morrer sufocada.  Durante o dia é mais fácil, a gente se distrai, conversa com as pessoas. Mas à noite a cabeça fica a milhão, vêm os flashbacks do acontecido. Mesmo eu sendo muito forte o subconsciente às vezes domina. Quero que isso acabe logo”, diz Mylena.

Mãe de menina, profissional independente, articulada e comunicativa, Mylena escapou do ataque com apoio de vizinhos e ação da Polícia, que deteve o agressor. Tornou toda a situação pública. E nessa entrevista ao Giro Marília ela conta como enfrenta o dia-a-dia

“Eu tenho procurado me manter sempre ocupada, conversando com muitas pessoas, e procuro falar de outros assuntos para distrair um pouco a cabeça.  O maior desafio é a vergonha que a gente sente mesmo sendo a vítima, eu tenho a impressão que as pessoas estão me julgando o tempo todo, que estão me olhando, esperando encontrar um motivo que justifique o injustificável”, conta.

– Desinformação, julgamento e apoios
“Isso é difícil demais para que as mulheres tenham força de falar sobre o que sofreram. Me perguntaram coisas do tipo: o que você fez pra ele te bater? Me falaram: ai se fosse comigo eu não deixava…Coisas que são totalmente ignorantes, ninguém deixa, simplesmente acontece e nós mulheres não temos a força p impedir.

Recebi muitos contatos e relatos de mulheres conhecidas e desconhecidas, algumas que chegaram a denunciar e outras que não conseguiram por medo da opressão.  Acho importante me posicionar para que as mulheres sejam mais ouvidas, ninguém gosta de apanhar.”

– Nova rotina
“Tenho medo de andar sozinha, não posso assistir nenhum tipo de filme nada que tenha violência que eu já fico mal, tenho medo quando as pessoas se aproximam, eu já fico preparada pra proteger meu rosto. No meu trabalho eu não vou mais fazer plantão por medo de ficar sozinha, eu imagino que ele possa armar algo pra mim.”

– Serviços Públicos de apoio
“A atuação dos serviços sociais é muito importante, principalmente por já terem experiência com o assunto,. Eu mesma nunca vi um caso de agressão na família, então é tudo muito novo, e nos serviços elas entendem a cabeça das mulheres que passam por isso.

Também ajudam a perceber como o comportamento deles são parecidos, e que já tinha indícios de ser uma pessoa abusiva, até porque existem vários tipos de violência, psicológica, patrimonial, física. E muitas vezes não percebemos o que estamos vivendo dentro de casa. E dão um suporte psicológico também que é muito importante.

– A relação com a filha em casa após o caso
“No princípio eu preservei minha filha, dizendo que eu tinha caído, porém fui falando com a psicóloga até conseguir falar com minha filha sobre o que aconteceu. A psicóloga me auxiliou nesse processo, não entrei em detalhes com ela mas falei apenas que o fulano fez algo muito errado, que não pode fazer que foi bater na mamãe. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida falar isso com minha filha.”

– Mensagem às mulheres
“A minha mensagem para as mulheres que passaram e passam por isso é que não tenham vergonha, elas não são culpadas de nada e elas não merecem isso. Mesmo as que voltaram com os agressores ainda dá tempo de procurar ajuda para sair dessa situação, porque não é fácil, tem a dependência emocional, tem a estrutura familiar, é uma mudança muito brusca. Então não liguem para os que acham que as pessoas vão falar. Apenas procurem ajuda porque nós mulheres somos fortes e não estamos sozinhas, somos umas pelas outras.”