Marília

Tempo Cronos, tempo Kairós. Reflexões sobre o tempo

Tempo Cronos, tempo Kairós. Reflexões sobre o tempo

“Eu sou o templo do tempo

O tempo acontece em mim

No meu rosto, na minha pele

No meu modo de vestir

Sou um rio de horas

E um mar de segundos

Sou vazio agora

Amanhã eu sou profundo(…)”

Música: Templo do Tempo

Composição: Flaira Ferro e Igor Bruno

Intérprete: Flaira Ferro

Convido você, leitor, a abrir uma passagem (no seu tempo) para conhecer outras perspectivas de relação (com o tempo). Observe o tempo que uma planta leva para vivenciar um ciclo de desenvolvimento; observe e sinta o tempo passar quando está mais ansioso e quando está em um estado mais relaxado; sinta a diferença do tempo na correria do cotidiano e nos dias em que o relógio fica em segundo plano; perceba o tempo que se leva para lidar e elaborar situações desafiadoras que ora e outra aparecem na vida, nem tudo se resolve rápido, tem situações e questões que demandam tempo ampliado, cadência, cuidado e unguento. Por fim, observe como você vivencia o tempo com quem ama, apressadamente ou presentemente?

Na mitologia grega, Cronos era considerado o mais novo de seis poderosos titãs, os quais pertenciam à primeira geração de seres divinos. Ele era o filho caçula de Urano (representação do céu) e de Gaia (personificação da terra). Segundo essa mitologia, Cronos vivia preocupado com uma antiga maldição lançada sob sua família, onde um de seus filhos iria destroná-lo e tomar o poder, a fim de evitar que a maldição se cumprisse, Cronos devorava todos os filhos assim que nasciam.

Kairós era rápido, andava nu e possuía apenas um cacho de cabelo na testa. Somente era possível prendê-lo, agarrando-o por esse topete, caso contrário, seria impossível segui-lo ou trazê-lo de volta. Em nenhum momento Kairós refletiria o passado ou pressentiria o futuro; ele é o único e genuíno instante presente.

Cronos corresponde ao tempo cronológico, o tempo do relógio. Simboliza esse tempo que segundo a segundo, nos engole. Já o tempo de Kairós é o tempo não medido, o tempo do “aqui e agora”, um tempo que se não for vivido em presença genuína se perde feito água entre os dedos.

É muito comum dizermos ou escutarmos a frase: “correr contra o tempo”, afinal de contas, para que correr contra o tempo? Correr contra o tempo é em si uma corrida perdida, a metáfora de Cronos exemplifica bem essa relação, quanto mais se “corre contra o tempo”, mais ele nos engole, seguimos “sem tempo”, cansados e pensando sempre no compromisso seguinte. O tempo nos atravessa continuamente de diversas formas, sentires e perspectivas, vez ou outra é necessário transitar pelo passado, revisitar e ressignificar afetos, assim como é importante sonhar e almejar o futuro, mas esse exato segundo que está sendo vivido é o único instante substancial que se tem de verdade.

Presente é palavra que deriva do latim praesentia, significa algo que está perto, fácil de alcançar; também simboliza uma dádiva ou lembrança oferecida a outra pessoa, nesse sentido, te convido a refletir sobre como tem vivido seu tempo. Apenas sendo “engolido” pelo Cronos ou se permitindo a abrir no relógio da sua vida espaço para kairós? Para a dádiva do Presente?