Marília

Terror - Corretora atacada por condenado critica atendimento e pede atenção a vítimas

Terror - Corretora atacada por condenado critica atendimento e pede atenção a vítimas

Um filme de terror. É essa a descrição da corretora de imóveis atacada em Marília por um condenado em saidinha de final de ano para sua vida desde a agressão, no dia 24 de dezembro.

Ela aponta falhas de atendimento, medos, inseguranças e defende a criação de uma rede de serviços de apoio para futuras vítimas. “Não quero que nenhuma mulher tenha que passar por isso.”

Faca usada no ataque foi apreendida com prisão do estuprador

A mulher, de 32 anos, foi atacada quando apresentava um imóvel na véspera de Natal. Pensava estar atendendo um oficial do exército. O agressor era um condenado a estupro em saidinha.

Ela diz não saber quanto tempo durou a agressão. Foi uma briga longa que envolveu ataques com faca, socos, mordidas, pontapés e pancadas na cabeça. Mas que se sente agredida também pelo atendimento após a fuga do homem.

A corretora lista três situações de falhas no atendimento que considerou marcantes:

1 – Nas ruas
“Quando ele fugiu eu sai gritando pedindo socorro. Ninguém abriu a porta. Eu continuei pedindo ajuda até que uma mulher veio. E aí começaram a aparecer outros, quando viram que eu era vítima. E alguns disseram que ouviram os gritos, me ouviram pedir socorro. Ninguém fez nada porque pensaram que era briga de marido e mulher. Mesmo que fosse. As pessoas precisam aprender a ajudar”, contou.

2 – Socorro médico
“Quando o Samu chegou disse que tenho plano de saúde e pedi para atendimento particular. Vi que minha mão estava em carne viva, que meus dedos não mexiam, uma dor intensa. Não é para desmerecer o SUS, mas por ser serviço que eu poderia usar. Chegou no Hospital Universitário, informaram que não havia equipe para a emergência, que o atendimento não era ali. Não consegui nem fazer a ficha e encaminharam para o HC. O bombeiro perguntou pra mim: pra que você paga esse plano?”

3 – Atendimento pós internação
“Não tinha assistência social, atendimento psicológico, comecei a chorar, pedi atendimento, pedi para tomar coquetel de prevenção de doenças. Disseram que não precisava porque não houve penetração. Mas eu me cortei, consegui atingir ele, sangrou, tive contato com sangue, levei várias mordidas. É um horror todo dia olhar essas marcas”, diz

Voltou ao hospital na terça-feira para avaliação médica e deve ser submetida nesta quarta a uma cirurgia de recuperação dos ligamentos nas mãos. Ela levou 51 pontos com cortes nos dedos. Após o atendimento emergencial passou a usar serviço particular.

Disse ao Giro que já conversou com empresários, mulheres com atuação em coletivos femininos e pretende se envolver na formação de uma rede que dê mais apoio desde a agressão até o atendimento posterior.

“A perícia só foi feita ontem, cinco dias depois, e tive que ir ao IML. Não tinha atendimento na hora. Hematomas reduziram muito. Deveria fazer o exame de corpo de delito na hora, no local. A mulher precisa ter prioridade, a mulher precisa ter credibilidade e serviços que comprovem as acusações, não é fazer depois”, disse.

Agressor foi preso em Pompéia depois de bater carro da vítima durante a fuga – João Trentini/Divulgação

Também criticou o sistema de saidinha temporária. “Como solta um cara com 34 anos de condenação, 18 passagens pela polícia por furto, roubo com arma branca, tem estupro, tem agressão Maria da Penha. A ficha dele parece um fichário. Eu gostaria de ver o laudo de quem assinou que ele não oferece risco para a comunidade.”

Até hoje, seis dias depois, não recebeu qualquer atendimento psicológico ou de assistência social. Também não recebeu nenhuma mensagem de autoridades em Marília, onde o caso aconteceu ou em Vera Cruz, onde mora. Agradeceu apoio da empresa em que trabalha

“Eu tenho uma rede de apoio enorme, tenho minha família que me apoiou, mas não é toda vítima que tem esse apoio e vai ter essa estrutura, muito menos nos custos. No meu caso não posso usar as mãos, não posso fazer nada. Preciso de uma pessoa para me dar banho, me alimentar, me ajudar com qualquer tarefa simples. Mas muita gente não vai ter isso.”

Vítima e acusado foram levados para o Hospital das Clínicas de Marília – Reprodução TV Tem

E relatou indignação com as dificuldades que acompanham vítimas. “Eu estava em Marília, fui pro Hospital. O cara foi preso em Pompéia, chegou no hospital, fez a cirurgia, foi atendido mais rápido que eu. Ele teve mais segurança, mais apoio, ficou internado em observação. Não tinha internação pra mim, estava com muita dor, mandaram pra casa.  Tive que pagar guincho pra buscar meu carro em Pompéia, para levar na oficina, vou ter que pagar o conserto, danos no motor, toda a higienização, tô pagando meus remédios, segurança.”

Afirmou que apesar da disposição para criar a rede, ainda precisa de muitos cuidados e tem muito medo. “Não acabou quando eu consegui acertar ele. Piorou. Ele ficou muito nervoso. Começou a falar: eu vou terminar o que comecei, eu vou te matar, vou matar sua mãe, sua família. Eu não sei que amigos, que conhecidos ele tem nas ruas nessa saidinha. Eu tenho medo por mim, medo por minha mãe.”