Marília

Um ano para estragar a cidade

Um ano para estragar a cidade

O ano eleitoral vai fazer muito mal a Marília. Já vem fazendo. Depois de doze meses desperdiçados no que deveria ser um processo de renovação política, em que a prefeitura que deveria ser protagonista do novo modelo enfiou os pés pelas mãos repetidas vezes, a contaminação eleitoral e o pior da política não só contaminaram como tomaram conta dos debates.

O prefeito Daniel Alonso encerrou seu primeiro ano combatido por erros, promessas engavetadas e uma injustificada – e por isso suspeita – ânsia pela instalação dos radares. Com ela deu espaço a um jogo de medidas estapafúrdias que só serviram para revelar meias verdades, um sistema de toma-lá-dá-cá e criar um racha que pode contaminar todo o resto do mandato. Quem vive de discurso político adorou. Pior para a cidade.

– Merenda
O caso da merenda estragada, divulgado com alarde pela própria administração, criou uma cortina de fumaça sobre outros debates sobre a educação em mudança, embalada pela imoralidade no ato de desperdiçar 7.000 quilos de comida na cidade que já foi centro do ramal da fome.

O caso caminha para mostrar que se há uma culpa individual está na falta de investimentos baratos ignorados para manter alimentos em equipamento inadequado. Vá lá que é equipamento que Daniel e a cidade herdaram, assim como escândalos maiores na merenda que foram sempre acompanhados por um silêncio assombroso de lideranças que hoje fazem gritaria, inclusive no Legislativo, mas não só lá.

Mas a cidade gastou mais e prejudicou mais seu dia-a-dia e futuro em outros casos – multas da Cetesb, transbordo do lixo, reajuste de contratos, pagamentos fora de ordem, deterioração de patrimônio – em situações que nem passam pelas discussões públicas e nem criam rumor nos bairros, o que envolve também alguma culpa do cidadão.  

– Toma lá dá cá
A demissão de parte dos cargos comissionados para punir vereadores infiéis foi vergonhosamente vendida como ato de eficiência política e rendeu do outro lado vergonhosos ataques que não existiriam sem as demissões.

Os dois lados erraram e se a cidade ganha com a economia destes recursos perde com o baixo jogo político que poderia estar mais envolvido, por exemplo, em discutir para onde vai esse dinheiro economizado e quando serão cortados os outros cargos considerados excessivos e ilegais pela Justiça.

– O terminal, os andarilhos, o transporte
O terminal urbano aberto provoca gritaria diária contra a presença de drogados, andarilhos e até cavalos no espaço, como se a grade em torno do espaço fosse a solução.

Bem, ela pode tornar mais seguro entrar e sair dos ônibus. Mas os drogados, andarilhos, ladrões, brigões e outros estão em diferentes pontos da cidade, vão ficar no camelódromo ao lado do terminal e os usuários terão que passar por eles.

Não aparecem aí propostas técnicas de melhoria do transporte, dados concretos de como as empresas podem ou não prejudicar a cidade, alternativas para resolver o problema do transporte ou da segurança.

A cidade fez festa com uma turma de deputados e nenhum dos que gritam contra os andarilhos e drogas cobrou de qualquer um dos nobres parlamentares as mudanças na estrutura política e econômica injusta que espalha miséria, o tráfico, desigualdades.

Ao contrário, quando puderam falar com quem decide o modelo do país, quiseram  posar para fotos juntos e pagar carona em anúncio de investimentos público.

– Só pensam naquilo
E tudo isso tem foco no ano de eleição, que pode definir jogo de forças política e servir de vitrine para outra eleição. Há pouco de técnico nos debates, há muita interferência de quem está ou quer voltar ao controle político da cidade e quase nada de propostas reais para mudar a relação dos poderes com a comunidade, o empoderamento do cidadão, a definição de prioridades reais dos bairros.

Está ruim com boa parte dos representantes públicos que a cidade tem e o ano que deveria ser de propostas para melhorar a representação caminha para ser mais lenha na fogueira de vaidades.