O perito judicial contratado pelo Vara da Fazenda Pública de Marília, o engenheiro civil Paulo Cesar Lapa, fez nesta terça-feira (16) nova vistoria no Conjunto Habitacional Paulo Lúcio Nogueira – os ‘predinhos do CDHU’, como são conhecidos, localizados na zona sul da cidade e mostrou, acompanhado por equipe da construtora, as várias situações de riscos que provocam ordem de interdição.
Após vistoria parcial dos blocos, realizada na manhã desta segunda-feira (16), Lapa afirmou que a degradação dos prédios continuou desde o laudo pericial que entregou à Justiça de Marília, em novembro de 2022.
“Vim comprovar e verificar a evolução das manifestações patológicas, que são evolutivas e não vão parar se não forem tomadas atitudes urgentes”, afirmou o perito. “O risco de queda é iminente, seja daqui um minuto, um ano”.
Apesar da identificação de maior gravidade em alguns blocos, o engenheiro afirmou que “todos estão em perigo” devido à degradação da infraestrutura básica. “Existem situações de reforma, mas a parte de esgoto, captação de água e rede de gás precisa ser feita de novo”.
PROTEÇÃO POLICIAL
Apenas 15 dos 44 blocos foram vistoriados na manhã desta segunda-feira (16). A visita aos demais deve ser retomada às 8h desta terça-feira (17), novamente com apoio da Força Tática da Polícia Militar (PM).
O perito, representantes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), da Prefeitura de Marília e equipes de reportagem – entre as poucas, a do Giro Marília – tiveram proteção policial.
O acompanhamento da segurança pública foi solicitado pelo juiz da Vara da Fazenda Pública, Walmir Idalêncio dos Santos Cruz, ao 9º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPMI), após audiência de conciliação realizada no início deste mês.
TÁBUAS EM DEGRAUS
A vistoria começou pela ordem alfabética dos blocos. Os três prédios do ‘A’ estão entre os mais afetados, com infiltrações, deterioração da laje, exposição de ferragens. Nas escadas, tábuas substituem os degraus.
No ‘B’, o cheiro forte de sujeira abandonado pelos corredores se soma a semelhantes degradações observados no ‘A’. Em meio à tragédia anunciada, cantos religiosos ecoam de um apartamento fechado.
“Cuidado com o terceiro degrau!”, avisa uma moradora. Os problemas de acesso do ‘C’ começam no térreo. Nos andares de cima, no entanto, o piso e as paredes limpas expõem uma manutenção distinta à de prédios vizinhos.
INFILTRAÇÃO
No bloco ‘D’, os prédios afundam-se calçada adentro. No térreo do ‘3’, o autônomo Richard da Rocha Jardim expõe as consequências das infiltrações de água na cozinha e no banheiro do apartamento em que mora desde 2020.
“A situação já este chegando no quarto onde durmo com minha esposa grávida. Quem vai resolver isso pra gente?”, indaga. No prédio ao lado, ainda no ‘D’, as paredes umedecidas sustentam uma rara beleza àquela desordem estrutural: um jardim vertical.
No último prédio visitado nesta manhã de segunda-feira (16), o ‘F3’, as marcas das labaredas permanecem nos corredores e no apartamento onde uma moradora faleceu após um incêndio que consumiu seus poucos pertences e sua vida.
DESOCUPAÇÃO
A vistoria antecipa o processo de desocupação a que os moradores devem ser submetidos, conforme decisão proferida em janeiro deste ano pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP).
O Giro Marília apurou nesta segunda-feira (16) que a Prefeitura de Marília reunirá representantes dos moradores nesta terça-feira (17) para deliberar sobre a remoção das primeiras famílias, mediante o pagamento de auxílio-moradia de R$ 600.
“Esse valor não resolve porque não se acha casa nem na favela com isso”, afirmou a moradora Maria Madalena Rangel. “Há muitas pessoas desempregadas aqui. Se tiver que complementar para pagar alguel, vai comer com o quê?”.
Até o momento desta publicação, a Prefeitura de Marília ainda não havia apresentado à Vara da Fazenda Pública de Marília um plano de contingência para desocupação dos imóveis. O prazo expirou na primeira semana do mês.