Marília

Vivência de 21 dias em Guiné Bissau – Um relato de experiência

Cenário predominante em Guiné Bissau – Foto/Caroline Stabenow Ross
Cenário predominante em Guiné Bissau – Foto/Caroline Stabenow Ross

Fazer o bem sem ver a quem, doar seus próprios recursos e dedicar tempo em prol do próximo. Estes são apenas alguns poucos exemplos de ideias e atitudes que englobam um trabalho de voluntariado, e foi com base nestes princípios que foi desenvolvido o projeto voluntário sem fins lucrativos por um grupo de 21 brasileiros e pelo Instituto de Desenvolvimento Humano Base Genesis, durante o período de 21 dias na cidade de Bissau, localizada na Republica de Guiné Bissau, no continente Africano.

Está entre este grupo de voluntários a aluna Gabriela Gaia Silva do 11º termo do curso de graduação em Medicina da Universidade de Marília – UNIMAR, a qual relata os principais momentos vivenciados neste admirável país através deste relato de experiência.  

Guiné Bissau, um dos países mais carentes do mundo, possui um modo de vida encantador e peculiar. Fica situado na costa ocidental da África, entre o Senegal (ao Norte) e a Guiné-Conakri (a Leste e ao Sul) (REINER, 2002). É composto por 1.530.673 habitantes e caracteriza-se por ser majoritariamente jovem: cerca de 49,6% da população tem menos de 18 anos e a esperança média de vida ronda os 52,4 anos. Nota-se que a taxa de alfabetização é de cerca de 43,7%, sendo que o abandono escolar é elevado por diversos motivos que abrangem áreas econômicas, sociais e culturais (BENZINHO; ROSA 2015).

Possui também uma grande diversidade cultural contando com mais de trinta etnias, sendo dividas entre os grupos majoritários do país. Os cinco grandes grupos étnicos que configuram o âmbito cultural estão espalhados em diferentes regiões do país, compondo o seguinte cenário: os Balantas (30% da população), os fulas (20%), os Mandjacos (14%), os Mandigas (13%), seguidos dos Papéis (7%) (TÉ, 2015).

A língua oficial da Guiné-Bissau é o português, porém é falada apenas por cerca de 13% da população. Os guineenses usam majoritariamente o crioulo como forma de comunicação corrente (cerca de 60% da população) ou um dos cerca de 20 dialetos existentes na região, como o fula, o balanta, o manjaco, o mandinga, o felupe, o papel, o bijagó, o mancanha e o nalu, entre outros. (BENZINHO, ROSA 2015)

Em meio a essa cultura diversificada, foram realizados os diversos projetos humanitários voltados para o bem estar da população local de Guiné Bissau.

O voluntariado consistiu essencialmente na dispensação de suporte básico em saúde, construção de uma escola primária, educação básica por meio de curso gratuito de férias e palestras educacionais nas igrejas adventistas locais.

Na área da saúde, as atividades eram realizadas diariamente nos diferentes bairros da cidade e contava com conscientização em vigilância sanitária, como a importância da higiene das mãos e dentes (com distribuição de creme dental e escovas de dente), do “Soro di Kassa’’ (soro caseiro) em casos de queixas de diarreia e vômitos (quadros muito frequentes na cidade em função do alto índice de verminoses), bem como atendimentos odontológicos e em enfermaria e encaminhamentos para o hospital local em casos de atendimentos médicos. No total cerca de 4000 pessoas foram atendidas pelo projeto.

Atendimento em saúde básica: aplicação de flúor nas crianças do bairro – Foto tirada por Márcia Garcia

Durante este período também foi construída uma escola de ensino fundamental no bairro São Paulo, a qual irá atender seis turmas de 25 alunos. A escola foi integralmente construída através de doações voluntárias. Além da ajuda dos voluntários brasileiros para a construção da escola, foi adquirida ajuda dos próprios moradores locais.


Escola São Paulo finalizada no bairro São Paulo em Bissau

Foi realizado também o curso gratuito de férias na Escola Adventista Betel, com o intuito de contribuir para alfabetização voltada para crianças.

O curso gratuito de férias contava com diversas atividades voltadas para o enriquecimento educacional infanto-juvenil. Os alunos foram presenteados com materiais escolares como cadernos, lápis e canetas para a realização das aulas.

Curso de férias

Durante o período da noite também foram realizadas atividades nas igrejas adventistas dos diversos bairros, tais como palestras para os adultos e atividades recreativas para as crianças.

O conteúdo abordado nas conferências para os adultos envolviam temas importantes para o bem estar da população de Bissau. Os moradores dos bairros locais foram orientados sobre como tornar a água do poço mais adequada para o banho e preparo dos alimentos, a importância da lavagem de mãos como forma de prevenir diversas doenças, administração adequada dos recursos e projetos de crescimento futuro.

Ademais, no que diz respeito às atividades realizadas com o publico infanto-juvenil, foram feitas dinâmicas interativas que abrangeram o aprendizado de musicas infantis (na língua portuguesa e crioula), encenações de peças de teatro e a distribuição de brindes.

Brindes distribuidos para as crianças

A vivência de 21 dias em Guiné Bissau resultou em vários benefícios para a população local. Inúmeras pessoas puderam usufruir de serviços básicos em saúde. Várias crianças poderão ter uma escola que ajudará na edificação e no crescimento educacional dessa população tão carente. Outra parcela dos moradores poderá por em prática os ensinamentos passados nas palestras e nas atividades recreativas realizadas nas igrejas.

No entanto, um dos maiores resultados positivos deste trabalho foi o crescimento pessoal e altruísta dos missionários. Em Guiné Bissau pudemos aprender que o “pouco” pode significar “muito”, que fazer o bem sempre resultará em algo bom para o próprio efetuador, mesmo que não de imediato.

Ser um voluntário em um lugar tão exótico e diferente requer diversos desafios, desde o risco de adquirir alguma doença endêmica até a rotina diária de trabalho em meio ao calor incapacitante. Mas quando olhamos para trás e nos deparamos com a felicidade e a gratidão de tantos amigos queridos, o unico pensamento que nos vem à mente é: “valeu a pena”.

Gabriela Gaia Silva – Discente do Curso de Graduação em Medicina da Universidade de Marília. E-mail: [email protected]

Profa Dra Tereza Lais Menegucci Zutin –  Docente nos Cursos de Enfermagem e Medicina e coord. do  Curso Enfermagem da Universidade de Marília – UNIMAR. E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS
REINER. F. Peixes marinhos da Guiné-Bissau. 2002
BENZINHO, joana; ROSA, Marta. Guia Turístico:  À Descoberta de Guiné Bissau, 2015. Disponível em <Aqui>. Acesso em 04 de abril de 2018 às 14:00
TÉ, wilson pedro. Relações exteriores da Guiné Bissau: um estudo das relações bilaterais Guiné-Bissau/Brasil (1974-2014), 2015. Disponível em < AQUI>  . Acesso em 08 de outubro de 2018 às 16:00