Marília

Voluntários pedem castração de animais de rua para reduzir abandono e maus tratos

Voluntários pedem castração de animais de rua para reduzir abandono e maus tratos

Uma rede com pelo menos quatro organizações não governamentais e um incalculável número de voluntários resgata e atende todos os dias cães e gatos vítimas de maus tratos, abandono e doenças. É um trabalho caro, cansativo e paliativo, que sofre com a sobrecarga de casos. O discurso de ONGs e voluntários parece ensaiado: falta ação para castração de animais de rua para reduzir o problema e campanhas de conscientização e valorização dos animais.

O apoio cresce, mas nunca no ritmo das queixas e denúncias. Além de os animais soltos ou abandonados acabarem reproduzindo e ampliando o problema, há agravante cultural: pessoas em diferentes classes sociais, formação e idades já foram vistas promovendo maus tratos ou abandono.

A situação é crítica, define Helena Barradas Sá, 28, secretária e revisora de livros, voluntária da Garra, uma das ONGs do setor. “A impressão que dá é que as pessoas se acomodam: “não quero mais, e vou colocar na rua se ninguém pegar”. Infelizmente, esse é o discurso que ouvimos praticamente todos os dias.” Ela defende investimento em um “castramóvel”, que rode os bairros agendando e fazendo as castrações gratuitas. Não é a única.

Com sete anos de atuação, a ONG Adote Animais Viralatas, conseguiu quatro castrações gratuitas ao mês. A ONG resgata animais abandonados e/ou vítimas de maus tratos. “Os animais são tratados, vermifugados, castrados, vacinados e encaminhados para adoção. Além disso, a ONG mantém um abrigo, mantido com recursos próprios e doação de membros da comunidade que apoiam a causa”, conta Fernanda Costa, 37, advogada e presidente da entidade.

O apoio significa ajudar com ração – em grande quantidade – recursos para construir e manter baias higienizadas, fornecimento de água limpa e na maioria dos casos tratamentos, quase sempre vezes complexos, além dos muitos casos de cachorras em parto ou com filhotes.

É fácil entender como as quatro castrações gratuitas são insuficientes, basta acompanhar o trabalho de uma das entidades, a Onganima. São pelo menos 50 castrações por mês financiadas por voluntários. Metade delas em bairros populares.

“Fazemos um trabalho de castração em três comunidades – Vila Barros, Azaléia e Tofolli. Uma pessoa vai, cadastra as cachorras e gatas fêmeas e de acordo com as nossas verbas (doação, venda de artesanato, rifas, feiras de sobremesas, bingo) vamos agendando as castrações”, conta a bancária aposentada Anna Yara Cunha, 62, vice-presidente da Onganima.

SOBRECARGA

“Há cada vez mais casos de abandono e maus tratos, os abrigos estão lotados e a ajuda, principalmente financeira, ainda é muito pequena”, engrossa o coro Aline Benetti, 31, gerente comercial Rima Móveis, e integrante da ONG.

Castrar os animais vai diminuir ritmo de surgimento de cães e gatos abandonados, mas não é a solução total para o problema. Mais que animais sem comida, os atendidos pelos ONGS são em quase 100% dos casos vítimas de violência e maus tratos.

Yara Cunha, da Onganima, diz que há até lugares escolhidos pela população para abandono, por serem pontos afastados, com pouca iluminação. “Próximo à Coca Cola, CDHU, Homex, Santa Gertrudes, Lixão de Avencas, Oriente , Padre Nóbrega e Lácio. Infelizmente as Ongs de Marília não dão conta de recolher. Os abrigos da cidade estão lotados.”

“Todas as ongs precisam primeiro ter um respaldo sério da prefeitura. Atualmente, o local em que abrigamos os animais é alugado, e o valor é alto para uma ong que sobrevive de doações. tem cerca de 20 baias e bastante gramado, onde eles podem correr e brincar todos os dias. É um local grande, que precisa de muita manutenção e voluntários”, diz Helena Barradas, da Garra.

Além disso, ela defende uma punição para aqueles que abandonarem seus animais ou os maltratarem. “Para isso, é preciso haver um cadastro dos animais da cidade.”

RESGATE


Animais em abrigo de ONG em Marília: proteção e carinho

Os voluntários e dirigentes de ONG vivem experiências comuns e marcantes na relação com os “atendidos”. Via de regra, já fizeram adoções ou usaram suas casas como abrigos.

“Minha primeira lembrança sobre esse tipo de adoção foi quando uma cadelinha apareceu no portão de casa. Não sabíamos de quem era, o dono não apareceu e a colocamos para dentro. Viveu conosco por quase 10 anos. O cachorro que temos hoje, o Roberto, apareceu em casa pouco depois de nos mudarmos para lá. Começamos dando um pouco de comida todos os dias, e hoje ele já tem casinha, coleira e até plaquinha de identificação com o nosso telefone”, conta a secretária Helena Barradas.

Aline Benetti já resgatou, arcou com os custos do tratamento veterinário e abrigou animas com todo amor e respeito até a adoção responsável, e atua para que a cidade tenha mais estruturas de acolhimento, divulgação, orientação,

Anna Yara Cunha é dirigente de ONG, a Onganima, e recolheu vários animais de rua. “Desses recolhidos fiquei com dois, por serem animais muito debilitados e de difícil adaptação.” A ONG luta por uma divisão de Zoonoses realmente ativa. “Não só recolher e enfiar os cachorros lá e não batalhar pela adoção e castração dos animais sadios recolhidos.”

Fernanda Costa, dirigente da Adote Animais Viralatas, também entran na lista de animais abrigados e mantém o abrigo, com muitos cães e gatos. Mas todos dizem que a atuação vai muito além de dar casa e comida.

“Além de resgatar e abrigar os animais, nós também ministramos palestras sócio educativas com o tema ´Posse responsável`, a importância da castracao e vacinação dos animais. Tais palestras ocorrem em escolas municipais, particulares e CRAS. O retorno dessa conscientização tem sido extremamente satisfatório”, diz Fernanda Costa.