Mulher

A insatisfação e suas moradas.

A insatisfação e suas moradas.

A insatisfação não tem residência própria.

A minha é inquilina e vai alugando casas a esmo. Todo dia sai visitando novas residências em busca de um local para aquietar.

O coração, o corpo, a alma.

 Ao encontrar, enjoa,  quer ver quartos, salas, cozinhas diferentes.

Mal ajeitamos os móveis e  consideramos tudo enfadonho e tedioso.

 Quem dera que somente eu sofresse esse mal, tem um tanto de gente por aí procurando um lugar para sossegar, não só o corpo, mas a alma.

Que ambiciosos que somos, não? É muita pretensão querer sossegar a alma. Esse trem dentro da gente que é desassossegado por essência.

O que eu quero, não sei responder. Duvido que vocês aí consigam, sem antes não suspirar,  buscando inspiração anterior.

Início de ano, inventamos as famosas listas,  desejo emagrecer, ser fitness, me alimentar melhor, ler mais, viajar. Os desejos vão se sobrepondo e com eles nossas angústias.

Colocamos na lista, viajar para Maldivas, quando não saímos de casa nem para tomar um sorvete.

Complicamos nossas vidas e nossas perspectivas. Alguém está proibido de sonhar? Claro que não! Mas sonhos precisam de planejamento e estratégia.

Por que desejar algo tão longe se podemos simplificar e voltar o olhar para o que está  perto?

Esse ano simplifiquei a lista, a lista é  não fazer lista.

O desejo é consumir menos.

Menos redes sociais, menos roupas, sapatos, maquiagens, e até,  pessoas.

É uma lista bem classe média e privilegiada, mas é também de quem está carregando mais do que deve.

Desejos, sentimentos,  vontades, insatisfações, essas últimas, não porque me falte algo, mas porque me sobra.

Quanto mais tenho, mais quero, e isso  serve para mim e para a Anitta.

Pobres e ricos procuram a mesma residência,  muda o tamanho, a localização,  o valor, mas estamos procurando.

O Capitalismo, o consumo, nos enche de vontades, desejos, nossos olhos brilham ao visualizar nossas redes sociais.

Os coraçõezinhos dos emojis tomam conta dos nossos olhos, vamos nos enamorando,  vamos nos endividando ou nos entristecendo.

Às vezes as duas coisas.

Sinceramente, desconheço uma forma de lutar contra um sistema inteiro nos bombardeando, criando em nós a ilusão de que precisamos o que, na verdade, não precisamos.

Por aqui, procuro residência fixa, mesmo que entrando em vários locais e não  me adaptando a nenhum deles.

Pressuponho,  e só pressuponho, que encontrei um apartamentinho bonitinho, poucos móveis,  decoração mínima, gavetas organizadas, só o essencial.

Virei uma adepta do minimalismo, inclusive, se, de repente, não nos vermos mais, saiba que não faz parte do apartamento que aluguei.

Lá, só o básico. Por enquanto.