A vida é uma pausa, é isso mesmo.
Duas semanas atrás fiquei sabendo que um amigo faleceu, hoje, uma pessoa conhecida que já vi rindo em churrascos, festas, também se foi.
Algumas pessoas dizem acostumar-se com a morte, eu sempre fico surpresa.
É sempre um choque saber que alguém que até minutos ou momentos atrás estava contigo, de repente se foi.
Daí você vai ao velório para dizer adeus àquela pessoa e ela já não está mais lá.
Olha, vê a pessoa inerte ali, quer balançar dizer volta, estou aqui. Você não está me vendo? Ela não está mais lá.
Não sabemos lidar com o adeus, o até breve, até vai, mas dizer olha, nunca mais vou te ver, é forte demais.
Tenho imensa dificuldade em terminar relações, em me desvincular de alguém exatamente por essa razão, não gosto de imaginar que nunca mais verei aquela pessoa.
Tanto que levo algumas pragas até hoje em minha memória sei de cor o aniversário dos ex namorados, inclusive do primeiro.
E no dia dos seus aniversários posso não ligar, não enviar mensagem, mas me recordo de cada um deles.
Assim como das amigas, sempre lembro e não preciso de agenda, nada do tipo, simplesmente lembro.
Não sou um ser sociável, mas olho para as pessoas de forma peculiar, sim, sou romântica.
Cada indivíduo é único e especial para mim, me apego além do que devo e levo essas criaturas, alguns que me enchem de alegria e outros de tristeza.
É ruim carregar pessoas, levá-las dentro de si.
Pessoas pesam, trazem alegrias, tristezas, sonhos, decepções, angústias e essa pausa inesperada, a morte.
A vida não é uma interrupção, é uma pausa, mas Viviane, as pausas sempre podem ser retomadas, não, a gente pensa que podem ser retomadas e por isso a comparação é a mais interessante possível.
Ficamos ali no meio do caminho tentando entender porquê parou, qual a razão de não ter continuidade.
Por que fulano hoje não chegou do trabalho as 18 como sempre chega?
Por que beltrana não chegou ainda, nunca atrasa?
Porque houve uma pausa, daquelas longas, não apertaremos o play e a música de fulano voltará a tocar, não tocará.
Fulano nunca mais vai cumprir o horário das 18, beltrana vai permanecer atrasada.
A vida se sobrepõe a maioria das vezes, mas a morte é forte.
Ambas chegam do mesmo jeito, é um dia comum, chove ou faz frio, tá um calor danado, nasce uma criança, morre uma pessoa.
A vida faz anúncio, pede passagem, permissão, a morte é intrometida, não bate na porta, não diz nome, chuta e entra.
Escrevo porque estou surpresa mais uma vez, a vida de duas pessoas conhecidas foi pausada.
Não sabemos o que rola do lado de lá, mas a frase clichê de que a pessoa continua viva dentro de nós, é fato.
Quando me recordo dessas pessoas as vejo rindo, há forma melhor de continuar sendo lembrado?
A vida é pausada todos os dias e de forma ininterrupta, mas a vida também continua com seu play enquanto não nos pausa.
A vida sempre continua com suas ausências barulhentas e com corações partidos.
Dizemos adeus ou até breve, não permaneceremos incólumes, não sabemos o que vem e reencontros podem vim ou nunca virão.
Estamos perdidos e, por ora, cheio de reticências.