Adélia, uma mulher como eu.

Eu adoro  Adélia Prado os seus poemas conversam diretamente comigo e com o que eu acredito que é  ser mulher.

Um dos meus poemas  favoritos chama-se a Serenata e mostra a ambiguidade e/ou a complexidade que é ser um ser humano.

É difícil demais encaixar  pessoas.

Eu, por exemplo, não caibo em nenhuma caixa, pelo menos pra mim mesma.

Não sou dona de casa, mas faço serviços domésticos e tal qual Martha Medeiros, acredito que vida doméstica é para os gatos.

Para alguns sou intelectual, para outros sou fútil.  Não posso ser inteligente e fútil?

Outros tantos me veem como uma mulher corajosa, destemida, determinada, guerreira, alguns me percebem sensível,   frágil, carente, coração mole.

Ora sou a mulher sedutora, femme fatale, ora sou a delicada, meiga, doce.

As pessoas não são bijuterias, não têm uma caixinha para guardá- las de acordo com as  definições que damos a elas.

Nenhum ser humano vai entrar em uma única categoria, somos seres complexos, repletos de vários tudos e de vários nadas.

Sou tudo que escrevi acima, uma confusão que perambula por esse mundo, cheia de características que, muitas vezes, são estranhas a mim mesma

Vamos parar de tentar encaixar pessoas. Assim como gaiolas não são para pássaros, caixas não são para pessoas.

Só é possível conviver bem com as nossas incoerências e, Deus amado, como somos incoerentes, quando percebemos que somos múltiplas coisas e isso não exclui uma outra.

Adélia perguntava no poema se virava doida ou santa. Eu queria dizer, Adélia, com sua licença poética, e aqui faço reverências, não dá para discordar de uma poetisa dessa sem todo o respeito que lhe é devido, que essa não era uma escolha sua, você já era doida e… santa também.