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Andréa Ladislau: "E viveram felizes para sempre" existe?

Pexels Neste Dia Nacional do Luto, a psicanalista Andréa Ladislau assina artigo sobre o luto romântico
Pexels Neste Dia Nacional do Luto, a psicanalista Andréa Ladislau assina artigo sobre o luto romântico


O clima de romance que invade o ar no mês dos namorados nos faz pensar no amor romântico que prega os amores eternos, felizes idealizações e expectativas de cumplicidade infinita. Mas afinal, o sonho de amor intenso, eterno e da construção de família perfeita, do relacionamento de contos de fadas, do “felizes para sempre” existe? É real? E como enfrentar uma separação e o luto de um amor romântico?

Reflexões que apontam os indivíduos de que os relacionamentos são construções baseadas em romance, concessões, aprendizados e gerenciamento de emoções. Nada é perfeito, tudo exige empenho, adaptabilidade e empatia. Tanto que as separações amorosas acabam gerando o chamado “luto romântico”. Luto pelo desejo do amor infinito. Mas por que luto?

O luto é uma experiência profunda e individual que se define pela capacidade de enfrentamento da partida do outro. É o estado de recolhimento. E esse estado passa por algumas etapas, nas quais, naturalmente, o ser humano vivencia conforme sua individualidade — alguns com mais ou menos intensidade, conforme a estrutura sentimental de cada um. Mas se cada uma delas for bem elaborada, o indivíduo poderá alcançar um equilíbrio consciente, apesar de toda dor envolvida.

Assim como o luto normal, a primeira fase do luto romântico é a negação, quando as pessoas negam a situação para combater as emoções que estão experimentando por causa da separação. A raiva é a segunda etapa, que ocorre quando os efeitos da negação começam a se desgastar. A raiva envolve uma efusão de emoções da pessoa que sofre, que pode se sentir irritada com a pessoa que a deixou ou com o que possa ter perdido.

Em seguida, temos a fase de negociação, na qual o enlutado experimenta pensamentos do tipo “se apenas…”. Na quarta fase do luto, temos a depressão, que surge ao enfrentar os aspectos práticos da perda. E por fim, temos a fase da aceitação, quando após externar sentimentos e angústias, reavivamento de memórias do relacionamento, positivas ou não, a tendência é aceitar a sua condição e a elaboração de estratégias pessoais de adaptação dentro da nova realidade.

Resistir e pular etapas pode fazer com que o sofrimento seja prolongado e gere, assim, traumas emocionais. Por esse motivo, é importante vivenciar o luto, entregar-se à dor e chorar, se sentir vontade. Respeitando claro, o tempo de cada um.

Somos seres individuais, e cada um irá agir de uma maneira. A maneira como compreendemos o momento do luto ou da separação pode ser crucial. Expressar-se sobre o luto é importante, já que, psicologicamente, não poder manifestar sua dor é uma agressão e pode alimentar outras dores somatizadas com angústia. Verbalizar é o que vai ajudar a elaborar e a sair do luto romântico mais rápido. É um recurso muito positivo e muito saudável. Falar e ouvir sua dor e se permitir vivenciar um novo relacionamento, sem se fechar para o amor.

Enfim, relacionamentos podem ser eternos ou duradouros sim. No entanto, para sermos “felizes para sempre”, é preciso entendermos que a felicidade é um estado e não uma condição. Os desafios da relação devem ser encarados, por cada parceiro, com maturidade e ressignificação. Além disso, deve-se ter a consciência de que a elaboração do luto romântico, quando este acontece, leva o tempo interno que cada um necessita.

Sabemos que a vida não é um contínuo estático, vivemos em uma constante mudança, e o ser humano é capaz de seguir em frente nas situações mais adversas. O importante não é cair, mas voltar a se levantar. Mas, se essa elaboração for difícil, o mais recomendável é buscar desenvolver uma visão mais realista do processo de separação e conseguir dar lugar a uma maior serenidade, através do enfrentamento consciente da nova condição de vida.

Fonte: Mulher