Não estatize meus sentimentos, quem já ouviu esse trecho da música da Legião Urbana, Baader-Meinhof Blues, onde há a crítica ao fato de colocar no papel de forma matemática aquilo que sentimos, por exemplo, quantidade de deprimidos no mundo.
Em outra música da mesma banda chamada Mais do Mesmo, Renato diz “ah, bondade sua me explicar com tanta determinação, exatamente o que eu sinto, como eu penso e como sou, eu realmente não sabia que eu pensava assim.”
É exatamente dessa última música que falaremos hoje, não dela em si, mas de como somos bombardeados por pessoas que se julgam mais conhecedoras de nós do que nós mesmos.
E aqui faço minha mea culpa, inúmeras vezes considerei que conhecia mais alguém do que ela própria.
Escrevo aqui sobre meu cotidiano e sobre minha realidade, das vivências que tenho e dos olhares que exerço sobre o meio que me circunda.
Dias desses saí com umas amigas e lá pelas tantas da conversa, fiz uma ponderação logo após as duas vieram com uma ideia própria de mim que, nem eu mesma tenho, ou seja, minhas amigas baseado no que apresento a elas julgaram que eu não teria coragem ou não agiria de determinada forma.
Onde as pessoas pressupõem que conhecem tanto as outras a ponto de falar sobre suas possíveis escolhas e comportamentos?
Temos que considerar que o outro é aquilo que ele quer ser para a gente. Cada um de nós, só mostra, talvez, cinquenta por cento do que somos e fazemos de fato. Quem de vocês não tem um segredo que nunca fora revelado à outra pessoa?
Quem aí tem coragem de contar tudo que pensa, sente, deseja, sem o receio do julgamento do outro ou até mesmo porque não quer dividir tal aspecto da vida?
Acho um porre, mas também faço a mesma coisa, quando conheço, ou pressuponho conhecer, alguém digo em determinados momentos, fulano seria incapaz de fazer isso.
Quantas vezes me surpreendi com uma conduta ou postura de alguém que jurava e julgava nunca ser capaz de agir assim ou assado? Fulano foi lá e fez assim e assado, para minha surpresa e de outras tantas pessoas que julgavam conhecer a totalidade de uma pessoa se baseando num conhecimento pífio da mesma.
Fato é que não conhecemos ninguém tão a fundo para que possamos fazer determinados julgamentos ou nutrir expectativa. Admito que detesto quando alguém diz que eu nunca teria coragem de fazer tal coisa sendo que me conhece tão pouco.
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Galera, não se admire com as possibilidades do outro, nem duvide, eu mesma não sou capaz de dizer que nunca farei tal coisa, pois me conheço e sei que essa maquininha aqui, vira muito rápido.
Já fiz inúmeras coisas que a maioria das pessoas que me conhecem jamais imaginariam, assim como sei que as pessoas que pressuponho conhecer também fizeram outras tantas.
O outro é uma possibilidade de vivências e histórias que nunca teremos acesso de fato, só nos é mostrado e contado o que é conveniente para a pessoa.
Mudamos de acordo com o ambiente em que estamos. Será que a pessoa que trabalha num escritório de advocacia, é o mesmo ou tem a mesma postura que terá num churrasco ou com a namorada?
Talvez, os colegas do trabalho o considerem sisudo, sério demais, já os amigos do churrasco vão dizer que fulano é muito brincalhão não dá para levá-lo a sério.
E a namorada pode dizer que ele é muito romântico e metódico, mudou a pessoa? Não, mudou como ela se mostra aos outros de acordo com o ambiente em que está.
Fulano pode ser sério, brincalhão e romântico, mas cada um o vê de um jeito, por isso esse julgamento do que o outro pode ou não fazer, ou tem coragem de fazer, só ele mesmo pode dizer.
Quem já foi ao psicólogo e esse dizia o que você sentia ou não e ficou muito irritado por ele ou ela colocar palavras na sua boca ou deduzir algo de você que nem existia?
Pois é, quando alguém diz, eu tenho coragem de fazer isso, ou eu não tenho coragem, até que se prove o contrário, e a prova vem sempre com o ato de quem fala, essa pessoa está coberta de razão.
Ela sabe mais de si mesma do que você que só ouve o que ela fala.
E como diz o velho ditado que chega a ser bonito de tão poético, coração do homem é terra que ninguém vai.
Às vezes até no seu é difícil achar o caminho e ter certeza, imagina no dos outros, então segure o que você acha que fulano pode ou não fazer, se você não sabe nada de você, imagina dos outros.
