Pele hidratada, massa muscular definida e emagrecimento rápido: são muitas as promessas do ‘chip da beleza’, controverso implante hormonal que se popularizou no Brasil nos últimos anos.
Influenciadoras digitais como Virgínia Fonseca e Flávia Pavanelli promoviam os efeitos milagrosos do implante nas redes sociais, que envolviam melhora da libido, atenuação de sintomas da TPM e maior vigor físico.
Mas será que é tudo verdade? O ‘chip’ possui intensos efeitos colaterais, como revelado pela cantora e ex-BBB Flay em uma matéria para o Fantástico. “Quando eu usei o tal chip da beleza, ele foi indicado para mim sem maiores explicações, e eu simplesmente confiei”, afirmou a cantora. “O meu rosto começou a encher completamente de espinha. Foi com o chip que ganhei 10 quilos.”
O implante conhecido por ‘chip da beleza’ utilizado por Flay é feito à base de gestrinona, medicamento hormonal utilizado principalmente como tratamento de distúrbios relacionados aos hormônios sexuais femininos , como endometriose e síndrome dos ovários policísticos.
Em abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a comercialização de terapias hormonais desse tipo para ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo.
A médica e cirurgiã plástica Renata Magalhães explica que, por ser derivada da 19-nortestosterona, a gestrinona é um hormônio androgênico, ou seja, análogo a hormônios masculinos.
A especialista adverte que o uso indevido do ‘chip’ pode levar ao aumento de pelos, incidência de acne, alterações na fertilidade e queda do cabelo. O CFM também cita outros efeitos adversos ao uso, como o aumento do clitóris, alterações cardiovasculares, doenças hepáticas, transtornos mentais e de comportamento e distúrbios endócrinos.
O médico ginecologista e especialista em endocrinologia Malcolm Montgomery explica que a gestrinona deve ser aplicada apenas com indicações médicas de reposição hormonal: “[a reposição] não é diferente de uma reposição de dente quando se coloca um implante ou de óculos quando se precisa enxergar melhor. Os implantes hormonais funcionam da mesma forma que outras reposições hormonais.”
A reposição hormonal busca aliviar os sintomas associados à deficiência hormonal, como ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal, alterações de humor e problemas de sono. Além disso, a reposição hormonal pode ajudar a prevenir condições de saúde relacionadas à falta de hormônios, como a perda de densidade óssea e doenças cardiovasculares.
“Os implantes hormonais, nas mãos de pessoas irresponsáveis ou de médicos sem experiência com implantes, podem resultar em uma situação em que não se observa uma alteração nos exames médicos da paciente, uma vez que não são realizados exames preventivos. É importante destacar que esse implante pode acarretar consequências negativas, assim como qualquer outro procedimento médico, caso seja realizado de forma inadequada”, diz.
Malcolm conta que o apelido de ‘chip’ foi designado pela apresentadora Hebe Camargo, cliente de longa data de seu consultório – o formato, no entanto, não é de chip: o implante se assemelha a um palito de fósforo e é inserido na região subdérmica do corpo.
“Não utilizamos esse nome [chip]. Infelizmente, quando sai na mídia como ‘chip da beleza’, fica parecendo algo extremamente fútil. Os implantes são médicos”, conta o ginecologista.
O uso correto e acompanhado do implante, segundo o médico, deve ser focado na saúde da paciente, e não na estética, já que ele oferece alívio para cólicas menstruais em casos de endometriose e para alterações ligadas ao excesso de menstruação, além de proteger a proliferação de miomas.
Malcolm reforça que a reposição hormonal deve ser prescrita e acompanhada por um médico especializado, que avaliará os benefícios e riscos da terapia em cada caso específico e individual.
Fonte: Mulher