No mundo, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres. Apesar de existir uma maior propensão de ocorrer após os 50 anos, o aumento de casos nos últimos anos em pacientes mais jovens têm chamado a atenção. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2023, no Brasil, foram estimados 73.610 novos casos. Após o tratamento contra o câncer de mama, 40 a 50% das pacientes podem evoluir para um quadro de infertilidade, já que alguns agentes quimioterápicos utilizados levam a lesões das células dos ovários, acarretando em uma diminuição da fertilidade ou até mesmo a menopausa precoce.
O congelamento de óvulos é uma forma de preservar a fertilidade e pode ser realizado logo após o diagnóstico de câncer. “Antes, sem o auxílio das técnicas de reprodução assistida as possibilidades reprodutivas após o tratamento quimioterápico eram menores. Com os avanços da medicina reprodutiva, as mulheres podem preservar a fertilidade antes do tratamento oncológico, ou seja, congelar os óvulos antes que a quimioterapia possa afetá-los, aumentando a possibilidade de uma gestação no futuro”, diz o ginecologista Vinícius Bassega.
O processo de preservação de óvulos segue os mesmos passos do que em uma paciente em estado saudável, com o início através da estimulação ovariana (utilizando medicações que estimulam o crescimento dos folículos), acompanhamento com ultrassons seriados e a coleta dos óvulos para o congelamento. O tratamento leva em média 13 a 14 dias, mas podem existir pequenas variações de acordo com cada caso. “Vale ressaltar que, em casos oncológicos, nem sempre precisamos aguardar a menstruação para começar o tratamento, como é feito em casos habituais. É possível começar o tratamento com um formato chamado ‘random start ovarian stimulation’, que seria o início do processo em qualquer momento do ciclo menstrual da paciente. Isso facilita que o início da quimioterapia não seja postergado”, comenta o especialista.
“O tratamento para congelamento dos óvulos é possível quase na totalidade dos casos de câncer de mama, exceto quando o estado clínico da paciente não permite passar pelo processo ou quando não há tempo hábil para realizar – ou seja, casos com indicação de início imediato da quimioterapia”, diz. A interação entre o médico especialista em reprodução assistida e o oncologista é de extrema importância – isso possibilita dar a melhor assistência para essa paciente, pensando no futuro reprodutivo dela e também sem postergar o início do tratamento para o câncer. “O maior desafio é ajustar o tratamento de congelamento dos óvulos com o timing do tratamento oncológico”.
Estudos mostram que boa parte das pacientes com diagnóstico de câncer que passam em avaliação com médicos especialistas em reprodução assistida, acabam não retornando para realizar o tratamento – principalmente pelos custos do tratamento. Por isso, desde agosto deste ano, o STJ definiu que os planos de saúde devem custear o congelamento de óvulos de mulheres com câncer. “Levando em consideração que a possível infertilidade dessas mulheres pode ser decorrente do tratamento quimioterápico, essa decisão visa viabilizar o tratamento para as pacientes oncológicas”, comenta o médico.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, a mamografia de rastreamento anual deve ser realizada a partir dos 40 anos em mulheres com risco habitual. Mulheres com parentes de primeiro grau com histórico de câncer de mama antes dos 45 anos ou câncer de ovário em qualquer idade são consideradas de alto risco e recomenda-se que a mamografia e ressonância sejam feitas anualmente a partir dos 30 anos.
Como manifesto no mês de conscientização do câncer de mama, o ginecologista reforça a importância do rastreamento do câncer de mama e também dos sinais de alerta que podem ser observados. “A principal manifestação da doença é o nódulo na mama, que pode estar acompanhado de dor ou não. Além disso, a pele da mama pode sofrer alterações, como vermelhidão, retração ou endurecimento. Outros sinais como nódulos no pescoço, axilas, alterações no mamilo, saída de secreção também podem ocorrer e devem sempre ser investigados”, finaliza.
Fonte: Mulher