Chamou a atenção o caso da modelo e influenciadora Aitana, que foi gerada por inteligência artificial e tem conquistado muitos seguidores, além de estar ganhando mais de 10 mil dólares por mês.
Rodrigo de Aquino, especialista em psicologia positiva e CHO, comenta sobre como a IA impacta ainda nos padrões de beleza e na autoestima das mulheres.
Os padrões de beleza já são bem irreais, como você acha que a IA, impacta ainda mais nesse fator ?
Acho que essa questão vai muito além de padrões de beleza. Os criadores da Aitana, procuravam uma “mulher determinada, forte, apaixonada pelo mundo fitness e por games”. Eles não encontraram essa pessoa no mundo real?
Em um mundo que necessita de mais verdade, transparência, ética e de humanização dos processos e das relações, que sentido faz criar uma personagem pra vender o que quer que seja?
Por mais que tentem avisar que essa imagem é artificial, em tempos acelerados, com filtros e interferências nas fotos, as pessoas do outro lado da tela tem condições de identificar o que é de verdade ou de mentira?
Em tempos que questionamos o uso de deepfake nas eleições, de tandas fakenews, devemos aceitar tranquilamente essas formas de publicidade?
Como comunicólogo acho perigoso e como especialista em desenvolvimento humano, felicidade e bem-estar, considero um lugar arriscado de se trafegar.
Você enxerga de que maneira essa ‘viralização’ de uma pessoa inexistente, considerando que temos tantas pessoas reais? Como isso pode impactar em pessoas reais, com sentimentos reais?
Que luta é essa que a sociedade está travando contra os padrões de beleza real? Já vivemos num mundo que tornou a estética, magra, branca e europeia como padrão, com impacto negativo nos corpos negros, pardos, vermelhos, amarelos e gordos, por exemplo. Não bastando isso, vamos fugir em direção ao mundo artificial?
Parte do mercado publicitário já entendeu que campanhas com pessoas reais gera maior identificação, reconhecimento, pertencimento e engajamento. O metaverso, proposta da Meta, não deu muito certo e espero que essa onda de avatares e personagens artificiais também não tenham vida longa.
Pessoas precisam ir aos parques, dançar em eventos presenciais, jogar bola e correr em espaços verdes. É disso que o mundo precisa. Felicidade sustentável e autêntica.
Em sua visão, as imagens geradas por IA, podem se tornar um pontapé para o desenvolvimento de problemas de autoestima?
O uso de imagens por IA pode gerar muito mais que problemas de autoimagem, em jovens e adultos de todas as faixas etárias. Além disso, adentra em questões éticas no mundo profissional, já que ela nem sempre cria imagens originais. Às vezes, elas podem ser cópias ou colagens de outras criações, parte do trabalho de outros profissionais. Isso causa danos na carreira e na autoestima de inúmeros trabalhadores como designer, fotógrafos, maquiadores, estilistas etc. Essa é uma preocupação que tenho enquanto Chief Happiness Officer.
Numa ponta, a criação de pessoas irreais e na outra, dissolvendo contatos humanos , fundamentais para a saúde mental das pessoas e fechando portas de trabalho.
A ideia de que a inteligência artificial nos faz ganhar tempo, traz uma questão importante: a nossa sociedade já não está extremamente acelerada? Precisamos ganhar mais tempo na criação de imagens e personagens? Quais são os pontos que nossa sociedade está elegendo como prioridades?
Fonte: Mulher