Estou sem inspiração e quando fico assim me pergunto, como é que esses grandes escritores conseguem escrever uma obra inteira sobre assuntos variados e com diversos personagens e ainda assim permanecerem interessantes?
Claro que esta reles mortal não está se comparando a qualquer um desses escritores, nem ouso pensar ou dizer isso, mas é só uma inveja e um questionamento mesmo.
Essa coisa do dom, se é que existe, é algo realmente fascinante, a pessoa nasce com uma habilidade esplendorosa para desenhar, para pintar, cantar (essa eu tenho uma inveja maior) e para escrever.
E escreve de forma leve, suave, até parece que é fácil, meu Deus, não é.
A escrita para mim é uma necessidade como comer, dormir, não que saiba fazê-lo, necessito, se não escrevo sufoco e a sensação não é nada agradável.
Li, tempos atrás, um texto da Clarice Lispector, era a reprodução de uma entrevista que ela concedera, o entrevistador questionava sobre como ela se sentia sendo escritora.
Clarice respondeu que não gosta da expressão “escritora “ e que era amadora, fiquei fascinada quando li essa criatura dizer que ela, a Clarice, minha gente, é uma amadora.
No entanto, a amadora Clarice, assim entendo, falava da sua relação com a escrita, e o substantivo vira verbo aí.
Como amava as palavras e a possibilidade de dizer e escrever, e eu, que não sou besta nem nada sou obrigada a dizer o mesmo.
E o que nos aproxima dos escritores? É que eles conseguem escrever tudo aquilo que sentimos e que não conseguimos verbalizar.
O escritor é um porta-voz, um arauto, alguém que existe para dizer, escuta, sentimos o mesmo, somos humanos juntos.
A sensação de pertencimento nos tira a possibilidade de loucura.
Dias desses, estava assistindo uma aula e o professor dizia que Cientistas Sociais são criadores de discursos, escritores também são.
Fui impactada, não só uma vez, mas diversas, por Saramago, Guimarães, Dostóievski, Adélia Prado, Manoel de Barros, Machado e a lista só tem começo.
Não sei de onde bebem água, não sei qual fonte, nem tampouco de onde vem tal habilidade de pronunciar o que, para nós, é impronunciável.
Sinto inveja, muita inveja, de pessoas que descobrem suas habilidades e as exercem para amenizar a dor da existência.
Porque se ela não dói pra vocês, pra mim, é muito dolorosa e só lendo muito e, ás vezes, tentando escrever é que ela se torna suave.
Conversando sobre isso com minha terapeuta disse a ela que não me importo se tenho habilidade ou não para a escrita, mas que necessito continuar fazendo.
Agora lanço a pergunta a você, qual é sua necessidade, o que te cura, o que não precisa de plateia, só de você como ator e te torna pleno?
Eu demorei a admitir que a escrita é a minha receita de saúde, quando assumi fui me curando em quase todos os aspectos da vida
Possivelmente, não seremos Clarices, mas poderemos viver mais plenamente, sendo Vivianes, Carlas, Lucis, Caróis, Janas, Tatis, Vilmas, pessoas possíveis.
Que tempos difíceis eram aqueles: ter a vontade e a necessidade de viver, mas não a habilidade, disse Bukowski, nós temos a habilidade e por hora, ela nos basta.