Eu caio na rede

Sou uma adepta contumaz das redes sociais e por lá exponho meus pontos de vista e opiniões. Algumas com conhecimento outras cheias de apenas “eu acho”.

Tenho notado que algumas pessoas fazem uso das redes para simplesmente cutucar aquelas que emitem opiniões acerca disso ou daquilo.

Esclarecendo que opinião é diferente de preconceito, essas criaturas, vindo só Deus sabe de onde, nunca aparecem para curtir aquela foto maneira ou até mesmo colocar um emoji de risinho diante de algum meme compartilhado.

Não, essas criaturas são aquelas que conseguem estragar uma brincadeira, uma piada ou até mesmo querem forçar a outra pessoa a mudar de opinião na marra, a pulso, como diz minha mãe.

Você, linda e faceira, posta um comentário sobre algo que gosta ou que não, um ponto de vista sobre algo e lá vem a criatura, “não concordo”, “eu só acho que”, “você poderia”.

Alguém perguntou sua opinião, querido? Você acha que pelo simples fato de comentar algo que seu amigo, colega, parente, crush, seja lá o que for, postou, a pessoa terá um momento de iluminação e mudará a vida dela?

Saindo um pouco do ambiente virtual podemos trazer isso para nossa vida real. Será que essa tua opinião aí acerca de qualquer coisa da vida do outro, é tão importante assim?

É necessário mesmo emitir seu ponto de vista?

A internet nos trouxe muitas possibilidades e também  a cara de pau de nos considerarmos muito importantes. Não, não somos.

Somos caros àquelas pessoas que nos amam e que amamos de volta, quanto as demais pessoas, talvez nem seja lembrado se sumir um dia do ambiente virtual.

Não desacredito na potencialidade das redes sociais em aproximar pessoas, até porque seria incoerente se assim o afirmasse, fiz amigos nessa rede que me dão suporte, muitas vezes até maior do que aqueles que podem me tocar e abraçar quando quiser, no entanto, penso que estamos nos gostando em excesso.

Não me refiro ao amor próprio e a autoestima, esse kit, aliás, é quase raro em qualquer lugar, dentro do binarismo ou fora dele, mas a esse narcisismo de só olhar a própria fronte e considerar que só ela é interessante, é que narciso acha feio tudo que não é espelho.

Também não defendo a ideia de sermos desprovidos de criticidade, um olhar mais atento a alguns comentários e defesas. No entanto, a pergunta é: vale à pena?

Saramago[i] dizia que não tinha pretensão de colonizar pensamento nenhum e se ele, o Saramago, não quis quem dirá nós que nos indagamos quem somos na fila do pão.

É duro aceitar algumas verdades, mas não somos tão inteligentes, tão articulados, tão argumentativos e nossos pontos de vista não são tão interessantes.

E quando a cordinha com os balõezinhos começarem a subir, tente levar um alfinete para perceber realmente se compensa essa viagem.

Essa necessidade que a nossa sociedade nos coloca faz com que busquemos um caminho muito complexo, chato e alienante.

Questiono se sou apenas um peixe e se caí num catfish, considerando que eu seja esperta demais, bonita demais, interessante demais, inteligente demais, qualquer coisa demais, e como diz a sabedoria popular, tudo que é demais sobra.

Sou apenas mais uma, e tudo bem também, todos somos, ninguém é tão importante assim, passemos o dedo para cima na timeline, quem sabe depois dessa opinião sem noção não tem um meme legal na frente ou um texto interessante?

É assim na internet é assim na vida.


[i] José Saramago, escritor Português, Nobel de Literatura em 1998.