Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), foram estimados cerca de mais de 65 mil casos de câncer de mama no Brasil em 2022. O tipo da doença é o mais comum entre as mulheres brasileiras com uma taxa de 43,74 casos por 100.000 mulheres. Em meio a esse cenário preocupante, fake news (notícias falsas) questionam a confiabilidade do exame de mamografia, responsável por detectar com maior precisão os casos da enfermidade.
O cenário de desinformação é marcado por declarações que afirmam que o exame de mamografia, feito com tecnologia de raio X, provoca câncer nas pessoas. Outra inverdade sobre o assunto ressalta que a compressão das mamas necessárias para a realização do exame também contribui para o cenário da doença. A professora de medicina da Unigranrio-Afya, Clara Carvalho, vê como alarmante a circulação desses conteúdos entre a população, especialmente no âmbito digital. A profissional especializada em oncologia informa que não realizar o exame contribui para uma detecção tardia, que dificulta o tratamento da doença.
“O risco de câncer radiogênico da mamografia é completamente desprezível. A compressão da mama é essencial para qualidade do exame, pois reduz a espessura da mama e evita que ela se mova durante o processo. O câncer de mama ainda mata muito no Brasil porque muitas mulheres já chegam em estadiamento [estadiar um caso de câncer significa avaliar seu grau de disseminação] avançado para o tratamento. Poucas pessoas procuram a orientação médica no momento e, além disso, práticas de autoexame não são divulgadas como deveriam”, conta Clara.
Segundo um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia, em parceria com a Rede Goiana de Pesquisa em Mastologia, menos de 25% da população-alvo brasileira consegue fazer a mamografia no SUS. Os estudos que validaram a mamografia como método de rastreamento demonstraram efetividade quando 70% ou mais realizava a mamografia.
O autoexame é caracterizado pela realização de movimentos circulares ao redor da mama a fim de identificar possíveis nódulos cancerígenos. Clara, no entanto, afirma que as mulheres devem realizar mamografias com frequência anual, antes mesmo de identificar qualquer irregularidade nos próprios seios.
“O importante é realizar o rastreamento das lesões pré-clínicas, ou seja, antes de se tornarem palpáveis. Grande parte da população adota o senso comum de ‘vou fazer o exame para que? Não vou ficar procurando doença’, mas a mamografia é fundamental para a saúde feminina. É melhor iniciar o tratamento para câncer com um nódulo de 2cm do que com um de 6 cm”, conta a médica da Unigranrio.
No que diz respeito a necessidade de radiação para a efetuação do exame, quando utilizadas técnicas adequadas e aparelhos calibrados, a dose de radiação em um exame de mamografia fica dentro dos limites considerados seguros. Além disso, outros fatores devem ser levados em consideração, como: risco hereditário, genético, epidemiológico e constitucional (mamas densas).
Outra fake news sobre o tema afirma que a radiação pode aumentar a probabilidade de um câncer de tireoide. No entanto, o Congresso Brasileiro de Radiologia (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasco) não recomendam o uso de protetor de tireoide no exame de mamografia, pois pode interferir no adequado posicionamento da mama, o que reduz a qualidade das imagens e leva à necessidade de repetição de incidências de raio X, aumentando as doses de radiação recebidas pelos pacientes.
“É verdade que a radiação ionizante pode aumentar o risco de desenvolver qualquer câncer, porém, em doses muito maiores do que as utilizadas na mamografia. Sobre a proteção da tireoide, segundo dados da Fiocruz, menos de 1 caso de alteração de tireoide foi identificado a cada 17 milhões de mulheres que realizaram mamografia anual entre 40 e 80”, afirma Clara.
A prevenção contra o câncer de mama está principalmente relacionada a hábitos que proporcionam qualidade de vida. O controle da obesidade e do estresse, associados ao não consumo de produtos derivados de tabaco e o consumo moderado de álcool contribuem para uma menor possibilidade de desenvolver a doença. Já os fatores vinculados a predisposição genética não podem ser minimizados, já que indivíduos com repetidos casos familiares de câncer devem ficar atentos aos sinais do próprio corpo e manter acompanhamento médico.
Fonte: Mulher