Maria chegou, o salão lotado fazia com que sua alma desse salto de alegria.
Estava toda viva, arrumara seu cabelo, colocou seu melhor vestido e calçara um salto. Logo ela tão desengonçada com aquele que, para ela, era um instrumento para torturar mulheres.
Olhou em volta e teve a certeza que aquela era sua noite, seu cabelo ondulado e volumoso chamava atenção por onde passava.
Maria não era bonita, nem feia, Maria existia. Exalava aquele incômodo que poucas mulheres geram. Seduzia sem esforço algum.
Seu riso era contido, mas quando sorria fazia quem estava perto rir junto. Maria era contagiante.
Combinara de encontrar Paulo, moço bem afeiçoado e disputado pelas moças da cidade.
Estava apaixonada, até tentava esconder, como dizem, amor e tosse não se escondem, Maria não conseguia.
Ficava com rosto de boba toda vez que Paulo se aproximava, perdia o traquejo social e lhe parecia que era a primeira vez que lidava com um ser do sexo oposto. Que nunca havia visto um homem.
Paulo era diferente, tinha um cheiro gostoso, mãos grandes, ombros largos, costas avantajadas. Ah, seu cheiro, pensava Maria, como podia ter um cheiro tão bom?
Nunca haviam se beijado, conversaram noites inteiras por mensagens, por chamadas de vídeos, haviam se encontrado algumas vezes na rua, mas ficavam os dois como abestalhados por terem sido contaminados pelo amor.
O amor costuma fazer isso mesmo, tira toda nuvem de aparente normalidade e converte os seres humanos num tipo específico. Que criam linguagens próprias que só os amantes conseguem interpretar, os que estão de fora olham e é como se ouvissem um blábláblá de cá e outro de lá.
Cumprimentaram-se, Paulo beijou-lhe a face, seus lábios tremiam ao tocar a pele quente de Maria, seu corpo todo era pura ebulição, fervia num descontrole entre o que os hormônios diziam e entre o sentimento estranho que corroía suas entranhas.
Maria olhava o salão que outrora estava lotado e parecia-lhe que todas as pessoas ali estavam numa velocidade diferente dela e de Paulo. As pessoas dançavam num ritmo alucinante, Maria e Paulo se olhavam com uma timidez lancinante.
Tentaram, de forma fracassada, iniciar uma conversa em meio ao barulho da música que tocava ao fundo e as risadas vazias das pessoas que ali se amontoavam para disfarçar suas solidões.
Cada vez mais precisavam se aproximar um do outro para falar o mais simples possível, não houve música romântica, não houve sinos tocando, se beijaram num deslize entre uma palavra e uma virada de rosto inoportuna.
Utilizaram a linguagem mais simples do amor e desde então Maria e Paulo se entendem até quando o barulho em volta não permite que os dois se falem. Maria e Paulo sem amam.
Até quando o salão está lotado, quando o salto machuca o pé e quando a música é muito alta. Maria e Paulo se amam.