Temos o hábito de associar beleza a sexualidade ou erotismo, alguém só é bonito se despertar desejo ou intenções libidinosas.
Nossa concepção de beleza é comprometida por um constructo social onde impera a juventude como representante máxima do que é belo.
Essa semana, dando aquela passeada básica pelo facebook, vi uma postagem com várias fotos da atriz francesa Brigitte Bardot em momentos distintos de sua vida.
Fotos de quando jovem e representava um símbolo sexual e atualmente, de uma senhora de seus 85 anos, sem intervenções cirúrgicas apenas uma mulher que quis envelhecer sem um bisturi a cortar sua pele.
Meses atrás vi outra foto da mesma atriz, com seu rosto envelhecido e outra ela jovem. A postagem tinha intenção de mostrar como fica uma mulher, por mais bela que seja na juventude, sem intervenções estéticas e defendendo que a mesma fizesse uso.
Nessa semana vi a foto do ator Tom Cruise e da atriz Kelly Mcgillis que foram par romântico no Filme Top Gun, na imagem comparavam o envelhecimento da atriz a do ator. Ela, num processo de envelhecimento natural e ele rodeado de cirurgias das quais o fazem aparentar ter 20 anos a menos.
Vocês podem adivinhar qual dos dois estava sendo criticado, Kelly Mcgillis.
Pessoas envelhecem e beleza não é um atributo específico da juventude, há pessoas belas em todas as idades e sem precisar de vários tratamentos estéticos e cirurgias.
Passou da hora de aceitarmos que beleza não tem correlação com desejo, não é só o que desperta nosso tesão e interesse que é bonito, palatável.
Beleza, meu camarada, tem a ver com o cheiro da pele, com o jeito que sorri, como os olhos se movimentam quando fala, como gesticula, tem a ver com o carinho certo, com o toque sábio, com a palavra no momento certo.
Mas tem a ver também com as rugas ao redor dos olhos, ou com as bolsas que se formam abaixo dos mesmos, com as manchas no rosto e nas mãos que denunciam que o tempo tem morada ali.
Beleza tem a ver com o rosto da Brigitte, com o nariz pequeno e boca grande de uma senhora de 85 anos que não precisa de mais nada.
Nossa sociedade hiperssexualizada precisa colocar desejo em tudo que olha, se um corpo, saudável, não desperta interesse sexual, não é um corpo bonito, não é um rosto interessante.
De fato que a sexualidade é uma área de nossa vida muito importante, mas não podemos e nem devemos ser tão hedonistas considerando que tudo que existe a nossa volta serve para que satisfaçamos nossas vontades.
Ninguém existe para o outro, as pessoas existem para e por elas mesmas, são um fim em si mesmas.
O tempo passa para todos, envelhecer é um processo saudável e natural, é até estranho precisar escrever que envelhecer é natural.
As pessoas estão começando a naturalizar o que não é natural e transformando em assombro aquilo que já é.
Admiro com uma dose maior mulheres que foram símbolo de uma sexualidade e beleza no seu tempo, no entanto não ficaram escravas disso. Aceitaram a beleza própria da idade e do envelhecimento e não enlouqueceram com um bisturi mágico, que transforma suas insatisfações com a vida num puxa repuxa louco.
Quanto a nós reles mortais cabe-nos trabalhar nossa percepção sobre o que consideramos belo e como isso foi construído, não devemos balizar nosso olhar utilizando como base a sexualidade.
Brigitte Bardot continua sendo uma mulher linda e agora ainda mais poderosa porque não faz questão da opinião de ninguém sobre sua aparência e idade. Chegou onde a maioria das mulheres querem chegar, não se importar com o julgamento do outro sobre a aparência.
Eu já quis ser Leila Diniz, hoje eu quero ser Brigitte Bardot, com direito aquele bocão lindo e falando je me fiche de ce que vous pensez de moi.
Um dia chego lá.