Liberdade.

Está tudo meio estranho mesmo.

O ar parece pesado.

Os dias passam lentos.

Os sentimentos soam confusos.

Angústia, tédio, cansaço, insônia, compulsões, as mais variadas.

Bichos corroem estômago, cabeça, pernas, músculos, ossos.

Tiram o sono, apetite.

Dão muito sono e apetite.

Você já não sabe definir o que sente.

É medo? É. Mas também é esperança.

Ouvir e ver a morte no noticiário e sentir que ela sussurra quando nos permitimos o silêncio interno.

A alegria de ver uma live de Teresa Cristina cantando aquele samba do bom.

Ou saber que no Rio de janeiro, na varanda de um apartamento, um artista canta Conselho de Adilson Bispo e Zé Roberto, enquanto os isolados se emocionam e aplaudem uma canção de esperança.

Ganhar um livro de Chico Buarque de uma pessoa querida que a distância ainda não permitiu o abraço.

Enlouquecer com as redes sociais, receber mensagens questionando se está tudo bem.

Colocar aquela meditação em dia, assistir séries e filmes atrasados.

Aquela aula de yoga ou alongamento.

Dançar vendo vídeos no youtube.

Mas os dias continuam chumbados, arrastando os pés como uma velha gorda e moribunda.

Âncoras nos puxam para as profundezas, não para nos dá apoio, mas para nos afogar.

Dias vagarosos, lentos como lesmas no muro, que se arrastam preguiçosos e gosmentos.

E você não aguenta mais ler, dançar, cantar, fazer yoga, ouvir músicas, assistir filmes e séries.

Se sente como uma névoa misturada ao ar pesado, que a qualquer momento some de vez ou puxa tudo a sua volta para o chão.

Não sabe mais o que está acontecendo, tem horror a si mesmo, a miséria e doença que o rodeia, as pessoas que se mostram doentes de alma.

Quer fugir do Quarto de Jack em que sua casa se transformou, mas o inimigo só entra se você sai.

Quer liberdade, mas está trancado com ela.

Quer dar as mãos e passear com a liberdade.

Ela te olha com carinho e malícia, lembrando que  pode ser muito sedutora mas que é bastante perigosa.

Você a  envolve num abraço e morre sufocado com ela.