Animação inspirada no poema Pássaro Azul, dede Cambrigde School of Art Charles Bukowski, produzida por Monika Umba,
Animação inspirada no poema Pássaro Azul, dede Cambrigde School of Art Charles Bukowski, produzida por Monika Umba,

Já pensaram em desistir de tudo? Em entregar os pontos e dizer: chega vida, acaso, seja lá o que for, você venceu.

Não tenho mais forças, pique. Essa você ganhou fácil!

Sentiram vontade de sair de todas as redes sociais, de não responder ninguém no whats ou/e desinstalar o aplicativo?

Cogitaram parar de falar com todo mundo, isolar-se e aceitar a condição da solidão que nos é imposta diariamente?

Inventaram inúmeros motivos para continuar vivendo, tentando, não se abandonar, não se desamparar?

Se indagaram sobre o motivo de estarem aqui, qual o propósito de tudo isso e o que afinal de contas você veio fazer neste mundo?

Se você respondeu sim para qualquer questionamento acima entra numa categoria de pessoas aguerridas e vencedoras.

Sim, vencedora! É fácil viver quando nenhuma dessas dores te afeta, a vida quase vira uma propaganda de margarina.

A vida de ninguém é fácil, mas existem pessoas que lidam ou sentem com menos força o que acima fora descrito.

Tenho uma amiga, e ela vai saber que estou me referindo a ela, que é feliz. ELA É FELIZ.

Minha gente, quem é feliz atualmente? Minha amiga. Nós, o grupinho do qual faço parte junto com ela, a apelidamos de Alien, porque  todas estamos deprimidas, ansiosas com crises e a mulher está o que? Feliz.

Quase não invejo ninguém nessa vida, mas dessa minha amiga, fico roxinha, acredito que levantei outras tantas pessoas que também estão com o mesmo sentimento.

Não sei quanto a vocês  mas me indago bastante sobre minha desqualificação para a vida, sempre me pergunto o que me falta ou onde tenho errado que não consigo sentir e ver a vida tal qual tantas pessoas.

Muitas vezes me respondo com a doença que tenho: Viviane, você é uma deprimida, sempre vai sentir um peso a mais, depois daquele momento que viu a vida cinza e nada importava, entrou num sentimento de torpor, chamado de anedonia, agradeça por conseguir levar a vidinha da forma que leva, já é mais que mérito.

Conselho que me dou quase todos os dias, quem sente como eu precisa se convencer que a vida vale à pena ser vivida e para isso nos damos desculpas, as mais absurdas. Mas o que dizer diante do absurdo de desistir?

Esse pode ser considerado um texto chato ou triste, ou quem sabe os dois. Pode ser percebido como uma escrita pesada. É tudo isso sim.

É a tentativa de continuar existindo, de arrumar mais um motivo para mais um dia e de silenciar o pássaro azul:

O Pássaro Azul de Bukowski

” há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
as prostitutas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?”
(Charles Bukowski