É na hora que deitamos que as visitas aparecem e sentam à cama conosco.
Um dia inteiro de trabalho, correrias, resolvendo problemas, às vezes sendo o próprio.
Passamos o dia fingindo que vivemos nossa vida e estamos apenas evitando pensar sobre ela.
Como é chata essa vida moderna.
Não estamos acostumados com a ausência de tarefas. Impomo-nos, o tempo todo, obrigações.
E quando, por um milagre, conseguimos a proeza de não ter nada para fazer.
Consultamos as redes sociais para arrumar uma discussão, curtir um vídeo ou uma foto, um texto quem sabe.
É imperativo não parar nunca, talvez seja por isso que vivemos cansados.
E cansados jogamos sentimentos, dores alegrias, tristezas, para o momento em que possamos dialogar com eles.
Eles uma hora vêm nos visitar, cobrar nossa negligência, falta de bom senso em fingir que somos seres autômatos.
Daí aparece a bendita insônia, crise de ansiedade, o choro agarrado ao travesseiro ou sufocado por ele, porque o bom é que ninguém ouça o nosso pranto.
Que ninguém perceba nossas fragilidades ou o quão humanos, temerosos e covardes somos.
Uma hora a vida vai nos cobrar muito caro por sermos tão negligentes com ela.
Com uma doença, nossa ou de quem amamos, ou com a perda de um familiar.
Cobrará de nós essa irresponsabilidade que temos com o que somos, com nosso tempo e com o quê priorizamos enquanto estamos aqui nessa travessia.
No livro A morte é um dia que vale à pena viver da Ana Cláudia Quintana Arantes, fala-se de morte, mas sobretudo de vida.
Uma médica especialista em cuidados paliativos aprendeu que a morte não precisa e nem deve ser tão punitiva e pesada.
No livro a autora trabalha temas como espiritualidade, arrependimentos, luto, fé e a sobriedade de quem está partindo.
São vários arrependimentos, mas o que nos toca sobremaneira é como as pessoas deixaram o tempo passar sem dar importância ao que é de fato importante, ou dando importância ao que era irrelevante.
Será que estamos vivendo uma vida com sentido para nós mesmos?
Que enquanto estamos com nossa família, amigos, amores, estamos com eles ou estamos preocupados com nossas redes sociais, nosso trabalho, nossos compromissos?
Estamos sempre com a cabeça num futuro que, talvez, nem chegue.
O que o livro traz de mais contundente é que tudo que damos demasiada importância agora, talvez e, provavelmente, não será tão importante no futuro.
Vale à pena receber visitas incômodas na cama quando poderíamos receber um amor, o nosso e/ ou do outro, o abraço de um filho, a mão carinhosa da mãe?
Ou o simples beijo de Morfeu, coisa rara e valiosa atualmente.
Quem estamos levando para a cama, quem merece dormir conosco?
Qual o tipo de pessoa você se tornou para ser anfitrião constante de visitas tão questionáveis?
Essa é a pergunta e a resposta. Boa noite!