Eu não sei em qual momento de nossa história, nós nos perdemos tanto, não somos paridos, somos chocados.
Sim, senhores, filhos e filhas de chocadeira, e a que se deve minha afirmação?
Tem um nome, mas não tem um rosto específico, Fábio Assunção, ator global, galã, boa pinta e, dependente químico.
E por que esse homem tão bonito, bem sucedido tem sido alvo constante de piadas, memes e agora, máscaras de carnaval?
Ele é um adicto e, portanto, está em luta constante contra um vício, com recaídas que tem virado motivo de escárnio e alegria de alguns com a dor alheia.
Mas a preocupação não é nem com o Fábio, há vários dependentes químicos no Brasil, todos eles dignos de respeito, cuidado, mesmo diante da dependência.
Existem outros tantos que são e nem sabem.
O incômodo é com a nossa falta de solidariedade diante da dor do outro.
Onde foi que o sofrimento, a tristeza, a miséria de outra pessoa começou nos parecer engraçado?
Ando temerosa e desesperançada e não falo só do ator global, que tem grana, que é bonitão.
Me refiro a nossa incapacidade de se solidarizar com o que o outro sente.
É tanta notícia ruim para o início de um ano. Brumadinho, houveram pessoas rindo porque os eleitores da cidade votaram em determinado candidato e por isso, mereciam a morte. Hein?
No incêndio no Ninho do Urubu, um dos jovens, negro, sofreu várias queimaduras e as pessoas estavam fazendo comentários racistas. Oi?
O menino estava internado e as pessoas estavam rindo e zombando da cor da sua pele, é, é isso mesmo.
Tem moradores de rua sendo acordados com água gelada porque estão dormindo em locais que os donos dos estabelecimentos não consideram adequados, as calçadas.
Pessoas culpabilizando mulheres por suas mortes, estupros, e os negros por serem alvos de uma sociedade racista em que o genocídio dos mesmos parece um projeto governamental.
Difícil acreditar em qualquer coisa ou ter qualquer nesga de esperança, não escrevo na intenção de trazer respostas prontas. Aliás, nem respostas tenho.
É uma reflexão para que possamos dar um stop na condução de nossas atitudes e comportamentos.
Estamos nos desumanizando, não sei quem nos deu a liberdade para sermos tão bárbaros.
Não fugirei à regra, considero que nesses tempos de caos social nada melhor que a arte para nos salvar da loucura.
Chico Buarque tem sido meu redentor por vários momentos, e me pergunto quantas “ Genis” temos escolhido e em quantas temos jogado pedra?
Durante alguns meses tem sido o Fábio Assunção, logo, aparecerá outro.
Você já se perguntou ou ponderou que pode ser um dos problemas e que precisa mudar?
Que a trave não está no olho do vizinho , mas no seu?
Não estava na Geni mas em quem lhe atirava pedras.
Vamos lá com nossa hipocrisia diária, colocando nossas máscaras e festejando mais uma vez nossa ausência de bondade.
Nosso carnaval….
Mas é carnaval, amanhã tudo volta ao normal.