Sábado matei alguns amores.
Vinha carregando eles já fazia tempo, alguns, por anos.
Mudava e levava eles juntos, já estavam pesados, já não era mais encanto, era fardo
Matei como se mata quase qualquer coisa, olhei fotos, li cartas, cartões.
Reli, revi, rasguei.
Já tinha rasgado aqui dentro, já tinha jogado fora.
Mas sempre chega o momento de enterrar o que já está morto.
Eu enterrei. Matei e enterrei amores.
Percebi que como folhas levadas pelo vento, numa brincadeira entre leveza e gravidade, eles foram embora.
Não doeu tanto como as vezes que olhei os restos de amor e quis trazê- los aos lábios.
Beijá- los, molhá- los.
Aceitei que a alma desse amor já havia ido embora há tempos.
Restavam sombras, resquícios dos sorrisos compartilhados, dos corpos entrelaçados, dos fluídos trocados, de peles, pêlos, lábios, segredos.
Eu achei que tinha matado eles, bobagem a minha.
Tinham ido embora faz tempo e eu tal qual uma viúva estava de preto trazendo à tona a lembrança do morto.
O morto, já estava enterrado.