Lá vem mais uma quinta, mais um texto, mais uma tentativa de entendimento do que sou para mim mesma e para o mundo.
Essa atual conjuntura social, econômica e mundial, tem nos transformado.
Ressignificando hábitos, crenças, desejos, anseios, sonhos.
Por falar em sonhos, a vida, universo, sei lá, tem me questionado sobre os meus.
Tudo começou com uma conversa despretensiosa com um amigo, ele revelou que nos momentos de tédio e solidão faz projetos e sonha.
Lá vou eu, toda serelepe, linda, prosa e poesia para a terapia semanal.
Revelo sobre o cotidiano repetitivo de uma ” isolante” (aquela que pratica o isolamento, neologismo, liberdade poética, escolha o nome aí) entre revelações de paqueras frustradas, exercícios cotidianos, o axé de todo dia, lá vem ela: Viviane, o que te bloqueou a ponto de não sonhar?
Em um segundo, talvez dois, minha memória faz uma retrospectiva que envergonharia a Rede Globo no final do ano.
A resposta não é simples, existem vários motivos. Mas o problema maior é: por que não consigo sonhar mais?
Ah, leva essa pra casa, Viviane, pense sobre isso, projetos, sonhos. Trouxe, coloquei embaixo do travesseiro, tal qual um brinco tirado à noite e esquecido.
Conversando com outra pessoa, ela, super feliz, contando sobre seus projetos, sonhos, perspectivas.
Vira o rosto, olha para mim, de forma séria e incisiva, arranca os brincos dos sonhos escondidos debaixo do meu travesseiro e pergunta: ” Quais são seus sonhos?”
Não tenho, respondo envergonhada, sei que as pessoas não levam à sério quem não sonha.
Sonha em escrever um livro? Não. Em viajar para algum lugar? Não.
E como se vive sem sonhos? E eu sei lá! Estou chegando aos 38 sem saber responder.
Sou tal qual o dependente químico que vive um dia de cada vez.
Não comemoro nada porque não sonho com nada. Talvez desista da minha leitura por considerá-la desencantada.
Como se pode levar a sério uma pessoa que não sonha?
Não leve! Talvez eu seja essa concretude mesmo ou o sonho de alguém e por viver o encanto do outro, sigo desencantada do meu.
Vocês que têm projetos, sonhos, estratégias são mais felizes.
Considero fascinante visualizar uma chegada. Só ando nas estradas e caminhos.
Sem ponto de chegada, só caminhante.
Os brincos dos meus sonhos estão debaixo do meu travesseiro.