Você provavelmente já deve ter passado pela experiência de ficar menstruada ao mesmo tempo que uma ou mais amigas. E também já deve ter ouvido falar por aí que os ciclos menstruais de mulheres do mesmo círculo social sincronizam. Mas, na verdade, por mais que essa teoria pareça instigante, ela não passa de um mito.
A tese surgiu na década de 1970 a partir de uma pesquisa feita pela norte-americana Martha McClintock. Ela analisou os ciclos menstruais de 135 mulheres que estudavam em uma mesma faculdade dos Estados Unidos e concluiu que a data de início da menstruação era mais próxima entre amigas e colegas de quarto.
Como explicação para a tal descoberta, McClintock supôs que haveria uma troca de feromônios — substâncias químicas liberadas pelos animais que permitem a sua comunicação com outros indivíduos da mesma espécie — entre as mulheres, o que supostamente faria com que elas menstruassem no mesmo período.
Segundo a teoria evolucionista, esse fenômeno seria uma espécie de mecanismo de defesa contra um “macho dominante” e contribuiria para a diversidade biológica da prole. Isso porque seria mais difícil um só “macho” engravidar todas as “fêmeas”, já que todas estariam no período fértil concomitantemente.
Todavia, a hipótese foi derrubada posteriormente. Estudos subsequentes realizados em grandes universidades ao redor do mundo, como a de Oxford, no Reino Unido, e a de Chicago, nos Estados Unidos, não conseguiram encontrar esses mesmos resultados. E assim, as metodologias utilizadas por Martha McClintock acabaram sendo bastante questionadas.
Mas o que fez com que essa teoria ficasse tão popular?
Segundo o ginecologista Patrick Bellelis, especialista em endometriose e colaborador do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, a teoria ganhou força porque veio a público justamente nos anos 1970, momento em que o movimento feminista tomava forma. Então, a ideia de uma possível cooperação entre mulheres parecia bastante atrativa.
Por outro lado, existem fatores que realmente podem influenciar a menstruação. E para avaliá-los, é importante considerar a duração do ciclo e a intensidade do fluxo de cada mulher. “Diversas medicações podem interferir, como anticoncepcionais, anabolizantes, antidepressivos. Patologias comuns, como a Síndrome do Ovário Policístico (SOP), também tem uma influência importante”, afirma o médico.
Além disso, é possível que alterações psicólogicas, como episódios de estresse e ansiedade, afetem as quantidades de FSH e LH — hormônios que regulam a atividade dos ovários e testículos — liberadas, o que também interfere no ciclo menstrual.
Por fim, Bellelis ainda cita o ganho ou a perda excessiva de peso. “E aí a gente traz como exemplo atletas que têm um baixíssimo percentual de gordura e não chegam nem a menstruar. Em muitos casos, a gente precisa fazer com que elas ganhem um pouco de peso, ganhem um pouco de gordura para que voltem a menstruar e consigam engravidar depois”.
Fonte: Mulher