Qual a necessidade de dizer?
Por que é necessário falar muitas vezes o que todo mundo está dizendo?
Por que repetir palavras, discursos, sempre mais do mesmo?
Sempre regras para se viver melhor, ou não, regras para se relacionar bem, que, inúmeras vezes, nos levam a relacionamentos fracassados.
Regras, regras, regras…
Uma sociedade que tenta, a todo custo, fugir delas criando cada vez mais novas regras.
Se você é uma pessoa que tem uma rede social, com certeza, já assistiu ou leu qualquer regrinha do bom viver.
O chato de seguir as regras dos outros é que vamos criando uma desconexão com nossos próprios limites.
Para ser feliz, acorde às cinco da manhã e vá correr. E se sou feliz acordando às oito e tomo um café sem pretensão alguma de sair correndo?
Ou se, assim como a maioria dos brasileiros, acordo cedo, tomo um café corrido porque não posso perder o ônibus, o trem, senão chegarei atrasado ao trabalho?
Sou menos digna de ser feliz se vivo diferente de você? Se minhas escolhas ou o meu modo de vida é diferente do seu?
“Ah, o amor, se não for assim, não serve.”
Não serve para quem?
Há regras para o interesse, o desinteresse, o eu te amo. Se bloqueio alguém de minhas redes sociais ou não.
Regra para ser considerado bem-sucedido ou um fracasso.
Novamente elas, regras, regras e mais regras e quando não suficiente, criamos outras.
Quanto mais redes sociais uso, mais desaprendo a viver, a andar com minhas pernas, a ter um mínimo de pensamento original, se é que é possível, mas, que seja, o mínimo de spontaneidade para declarar se de fato gosto ou não de algo, ou, se precisarei da anuência de qualquer outra pessoa.
Ainda assim, é necessário continuar reproduzindo, falando, repetindo ou como diriam alguns por aí, cag… regras na vida dos outros?
Desconheço outro meio mais eficaz do que ouvir ou se fazer ouvir, que as redes sociais.
Embora, muitas vezes, há mais vontade de falar do que ouvir dentro delas.
Uma necessidade fremente de sempre deixar suas palavras por aí, jogadas ao ar ou que alcancem algum ouvido atento e um coração cansado.
As palavras, os discursos, sejam eles ditos, escritos ou visuais, são extremamente poderosos, e essa, embora pareça uma frase clichê, corresponde a realidade.
Mudam vidas, abrem olhos, iniciam guerras, trazem a paz, criam animosidades e também potencializam o amor.
Embora, os discursos dos vídeos e reels de nossas redes sejam repetitivos e tenham muitas falácias, trazem por vezes, a poética de quem tirou os olhos da realidade e os reduziu a luz zul dos seus aparelhos celulares.
Hoje, não com surpresa, ao movimentar o dedo indicador buscando um vídeo que interessasse, súbito um vídeo com a atriz Denise Fraga falando sobre a importância de um Chico Buarque, uma Bethânia, um Carlos Drummond.
Dizia ela que nós não deixaremos de sofrer, no entanto, quando conhecemos esses artistas, sofremos mais bonito.
Comungamos com um poeta o mesmo sofrimento e isso permite enxergar a nossa solidão no outro.
Mais uma regra em que coloco meu check.
O que seria de mim se não pudesse ver e ouvir esse poema logo pela manhã e, se não pudesse seguir essa regra?
Agradeci por mais esse ordenamento e pela Denise Fraga que, pode ter dito o óbvio, porém, palavreou meu dia e chegou a essas vistas cansadas e a esse coração sedento.
Qual a necessidade de dizer? É a mesma de se curar e curar o outro.
Hoje, Denise Fraga, me curou da solidão.
¹ Excerto retirado da música Palavras do Titãs