Sentada em meu carro no início de uma semana conturbada.
Nada vai bem, meu rapaz, o mundo, meu país, meus conhecidos, eu.
Não há cápsula medicamentosa para remover tamanha tristeza, cansaço.
Por hora dá uma vontadezinha de picar a mula, como dizia minha mãe.
Mas para onde ir?
Onde fugir de nós mesmos, dos cansaços, das dores, das perdas, da impotência?
Maldita impotência que lembra que você é simplesmente mais um humano tentando dar certo num mundo em que quase tudo dá errado.
Respiro fundo, busco o ar, coração em solavancos, uma mão invisível o aperta.
Sinto-o, ora apertado, ora dolorido.
Não aprendi a lidar com a vida adulta, com a crueldade, o desdém e a indiferença.
Mesmo sabendo que muitas vezes sou eu a cruel, a que desdenha ou a que é indiferente.
Vou-me embora pra Pasárgada, será que lá aceitam pessoas de corações exauridos e almas quebrantadas?
Não tenho talento para a vida, companheiros, não sei se em algum momento me deram suporte para isso. Se deram, desaprendi.
Escrevo com a inabilidade de uma criança que tenta dar os primeiros passos: cambaleante, insegura, buscando mãos, braços, apoios.
Estamos todos com as mãos estendidas buscando outras mãos, outros braços, colos.
Como pedir ajuda ou consolo a quem, muitas vezes, está pior que nós?
Como consolar quando nós mesmos estamos quebrantados até a alma?
Sigamos a dança dos infelizes, dos incompletos e dos sensíveis.
Há de haver uma ponta de carinho em algum lugar, um sorriso largo, um abraço afetuoso.
Agora nos permitiremos a dor e o cansaço. Parar no caminho para sentar à sombra e tomar uma água também é parte da trajetória.
Sigamos!