Saída de guerra.

Tela branca, caixola em branco. Tantos assuntos a serem escritos, a serem comentados.



Luiza Sonza e o machismo de cada dia, PC Siqueira e a pedofilia que também perpassa o machismo.



A quantidade de mortos numa pandemia, várias famílias pranteando seus entes queridos.



As desventuras de um governo que parece desejar que a população brasileira, ou pelo menos uma parcela dela, seja dizimada.



Mais um caso de racismo, agora envolvendo a cantora Ludmilla.



São tantas informações, tantos fatos, que fica difícil escrever sobre qualquer coisa. O cenário é desolador e só não se dá conta disso quem está vivendo como Alice no país das Maravilhas.



Conversando com amigas acerca do caso PC Siqueira e de como algumas coisas são normalizadas, por exemplo, vê meninas de 14, 15 anos como adultas, percebi uma tristeza e desespero na conversa.



Mulheres, mães de meninas de 5 ou de bebês, desesperadas com o mundo que aguarda suas filhas.



Quando nascemos, a roupa de saída do hospital teria que ser uma de guerra, porque a sensação é essa.



A impressão é que quando se é mulher, nascemos para um combate constante.



Primeiro para proteger nosso corpo, as pessoas ainda pensam que o corpo da mulher é de esfera pública e para desfrute. Não é.



Depois lutamos incessantemente para nos adequarmos a um padrão, começa assim um readequamento para que possamos odiar o nosso corpo.



Mesmo sendo magras, curvilíneas, dentro do padrão midiático, estaremos infelizes com o que o espelho nos apresenta.



Depois lidamos com o ódio por tudo aquilo que representa o ideário do que é ser mulher.



Somos mal quistas e mal vistas, se um cara tem um comportamento mais delicado ou se age de forma a fugir do que chamamos de masculinidade padrão é chamado de mulherzinha.



Alguns homens chegam, de fato, a mostrar nojo e repugnância de mulher. Nasceram como? De chocadeira?



Infelizmente, o ódio à mulher tem sido cada vez mais forte e propagado. Seja nos discursos, no número de feminicídios, violências, assédios.



Minha sugestão às minhas amigas é que as mesmas armem suas filhas. Sim, foi essa sugestão que eu dei.



Não, não é uma arma física, é de conhecimento e verdade.



Nada de conto de fadas onde a princesa espera um príncipe para salvá-la.



As crianças, principalmente as meninas, precisam aprender a dizer não logo cedo, a olhar seu corpo e cabelo com carinho,a indústria tentará destruir isso, a reconhecer que amor não bate, não prende, não sufoca.



Que ninguém toca no seu corpo sem consentimento e, infelizmente, um olho no gato e outro no peixe.



Li um texto essa semana falando do caso PC Siqueira e da idealização do que seria uma mulher perfeita e a descrição batia com uma menina de 13 ou 14 anos. A pergunta no texto era, você deixaria sua filha de 14 anos com um amigo seu? A resposta obviamente era não.



Ainda é necessário explicar que nem todos os homens são mau caracteres, mas não está escrito na testa quando são. Portanto, para que não haja dúvida, todos são potencialmente um perigo até que se prove o contrário.



Mulheres do mundo, uní-vos e nesse caso, protejam-se. Quando chegamos ao mundo, entramos numa guerra que se quer sabíamos ou desconfiávamos da existência, mas caímos dentro dela.



Não há outra alternativa a não ser lutar e se defender.



Nos sentimos desprotegidas e desanimadas mas há uma geração futura de meninas que chegarão e que precisam de nós, do nosso conhecimento, exemplo e de nossa força.



Um dia, isso mudará. Provavelmente, não veremos as mudanças, mas vamos ensinar nossas meninas a fazer parte dela.



Nós já somos!