Saudade

Conversando dias atrás com uma pessoa fiz o seguinte questionamento, saudade mata? Ao que prontamente recebi como resposta um não.

E em que se baseava a pergunta? Há uma música, dessas do sertanejo universitário, que diz que saudade mata.

Concordo com os moços do sertanejo universitário, saudade mata, meu vô, por exemplo, faleceu de saudade.

Com certeza outros exemplos podem ser enumerados, quantas pessoas não desistiram de viver porque não suportaram viver somente com a lembrança de algo que lhes fora tão bom e tão caro?

Chico Buarque na música Pedaço de mim, afirma que a saudade é o revés de um parto, saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.

A música toda é um sofrimento só, você sente cada palavra dita pela Zizi Possi e por ele, é como se lhe amputassem algo e ao mesmo tempo te mostrassem o membro amputado.

Saudade é um dos piores sentimentos que um ser humano pode sentir, é ausência sentida, é viver diversas vezes a mesma situação.

É retomar o último abraço, o beijo, aquele cheiro peculiar, o sorriso no meio do beijo, a piada que não tinha graça mas que produzia ótimas gargalhadas.

Recordar o gosto da banana da terra frita, que só sua vó sabia fazer ou daquele cheirinho que ela tinha.

Do coque trançado no alto da cabeça, de como gostava de flores e do cheiro do creme nívea da latinha azul.

É lembrar o prato que só sua mãe fazia, do tempero dela que nenhum chefe, por melhor que seja, conseguirá reproduzir.

É o sorriso da sobrinha quando brincavam, é da voz dela te chamando, o tom e entonação que dava às palavras.

É o cheiro do amor que ainda permanece.

Saudade é ter o passado nas mãos como mero vapor que se esvai a simples tentativa de mover um dedo.

Está no presente, passado e futuro, sim, porque é possível sentir saudade do que nunca existiu, das possibilidades perdidas, ou daquelas que só ficaram no desejo de quem um dia imaginou um futuro diferente.

Saudade é um sentimento ambíguo, é triste, mas ninguém sente saudade do que é ruim, são vivências boas, momentos mágicos que ficam guardados na memória e que ao simples chamado vem à tona.

É trazer à vida quem já deixou ela faz tempo, é comer aquele bolo de novo, sentir o cheiro novamente, ouvir o barulho da risada e do rosto dele quando ficava bravo.

É colocar presente quem já deixou de ser faz muito tempo, saudade é rir novamente para alguém que amamos, mesmo que só ao fecharmos os olhos podemos ver o retorno desse sorriso.

Saudade traz à vida quem  foi  importante em algum momento, mas também adoece quem não pode de fato tocar, nem que seja por um instante, essa pessoa.

Como sempre, Chico tem razão e, nesse caso os sertanejos universitários também, saudade mata, aô se mata!