Um causo de amor.

O conhecera em um churrasco daqueles em que você só vai porque foi convidado.

Tinha pretensões? Nenhuma. Só queria a distração de rostos desconhecidos e superficialidades que não tocassem sua vivência.

Provavelmente nem daria pela sua existência se ele não falasse com ela, era um cara sem beleza aparente, sem atributos que pudessem chamar sua atenção.

Mas era despretensioso, não fazia questão da presença dela, logo ela que era tão acostumada ser paquerada e desejada. Ele não, também não se importava com a presença voluptuosa daquela moça, ela era apenas mais uma mulher, apenas uma mulher.

Ela sentou ao seu lado, olhou a sua volta, não tinha outro lugar onde pudesse se acomodar.

Observou os homens que estavam presentes, nenhum de fato bonito, ou que lhe interessasse, havia dois moços, um no estilo ”estou saindo da adolescência agora” e outro descolado.

Ela não gostava de homens que queriam parecer o que não eram.

Sentou do lado daquele cara que já estava um tanto quanto alterado pelo álcool de um churrasco que já estava findando.

O rapaz, por alguma razão desconhecida, se interessou pelo jeito meio rebelde daquela moça de olhar perdido.

Numa discussão boba, onde ela lhe respondera de forma ríspida, se sentiu desafiado “é essa que vou pegar”.

Ofereceu seu aparelho celular para que ela pudesse registrar o número, ela estava desconfiada dele e de todos ali presentes, pensou, bem, o máximo que posso fazer é bloqueá-lo se ele for um tonto.

Registrou o número e devolveu o aparelho. Ele era mais desconfiado que ela, no mesmo momento ligou no contato salvo.

Sim, ela deu o número correto.

Nada de precioso pode ser registrado dessa noite só o fato de que duas pessoas solitárias encontraram um olhar que dizia “eu também”.

Ao lembrar como tudo iniciou se questiona onde não viu os sinais, em qual momento desejou o engano, todos os fatos estavam ali sob seu olhar.

Tudo que era importante para ele, bebida, churrasco, amigos. Lembrou-se que ele tinha feito pouca questão da sua presença, ele não a enganara, ela sempre esteve no mesmo lugar daquele dia. Ela foi alguém que chegou e passou.

Ela seguiu estrada, ele continua lá no churrasco, ela mudou, ele continua o mesmo.

Hoje ela se nega registrar seu número em um aparelho de um desconhecido qualquer, ele continua oferecendo o celular para outros números.

Ela cansou de ser desafio, e ele cansou de ser desafiado.

Uma história de dois despretensiosos que se encontraram numa noite comum e que não puderam ficar juntos porque estavam separados no espaço.

Ela nunca fez questão de ir e ele sempre desejou permanecer lá.