Mulheres do mundo, eu vos pergunto: vocês estão prontas para deixarem de ser desejáveis?
Durante quase a totalidade de nossa vida inteira, somos desejadas.
Aquelas que estão dentro do padrão podem se dar o luxo (?) de fazer unidunitê.
Uma oferta generosa do gênero masculino, um por dia da semana, se assim a moça decidir.
Mesmo que, na maioria das vezes, o olhar de desejo incomode, nós incorporamos em nosso dia-a-dia, utilizando até mesmo como validação daquilo que somos.
Se o outro me olha, me quer, sou bonita, atraente, desejável.
Se não ocorre viradas de pescoço quando passo, sou feia, ninguém me quer, ninguém me ama.
Há inúmeros problemas em gostar de quem se é com a permissão do outro.
No entanto, elencamos aqui o envelhecimento e a mulher que outrora arrebatava corações e que, atualmente, passou a ser chamada de velha e feia.
As pessoas associam velhice a feiura.
Sempre tive curiosidade em ter um dedinho de prosa com Vera Fischer, Brigitte Bardot, entre outras.
Que além de lindas, faziam corações e olhos pularem onde chegavam.
Gostaria de saber como essas mulheres lidaram e/ ou lidam com o envelhecer e a ausência do olhar masculino sobre si mesmas.
Sim, mulherada, temos tempo útil de mercado, o corpo feminino é um produto com validade rápida.
Já ouvi adolescentes chamarem mulheres de trinta anos de coroa.
Na hora tentei localizar-me no espaço-tempo.
Espera aí, se uma mulher de trinta é coroa, uma mulher de quarenta, cinquenta é o quê?
Para eles e, até mesmo para nós, velha.
Até a palavra velha recebe um tom pejorativo quando pronunciamos, como se envelhecer não fosse um fato para pessoas sortudas.
Alguns vão embora tão cedo.
Usualmente, confundimos características como ofensas, velha, gorda.
É urgente que nós, mulheres, ressignifiquemos algumas palavras e alguns valores.
Que não precisemos da validação masculina para nos gostar e, até mesmo, nos sentirmos desejadas.
Estamos envelhecendo, há beleza na velhice, e não estamos nos referindo à maturidade, ponderação e sabedoria.
Nem todo mundo que envelhece recebe esse pacote.
Mas ao seu corpo que começou a passar por transformações com a gravidade ditando as regras.
Os vincos nos cantos da boca denotando o movimento do riso.
As linhas horizontais na testa que lembram do assombro ou da sua mania de dar ênfase a tudo que fala.
Daquelas linhas de marionete que recordam que a vida também te deixou triste e cabisbaixa muitas vezes.
Há beleza em tudo o que nos marcou, há beleza em nós.
Ainda que aqueles que estão na mesma idade que nós, estejam saudosistas buscando salvar a si mesmos com moças com metade de nossa idade.
Que façamos um acordo tácito conosco e que respeitemos a sua existência enquanto damos o ar da graça nessa vida.
Não precisamos que o outro nos olhe com desejo para validar o quanto somos desejáveis.
Nem necessitamos de elogios, sejam eles sinceros ou não, para corroborar o quanto somos bonitas.
Envelhecer não é uma desgraça, é só o tempo passando e te aproximando do fim de uma jornada.
Deixamos de ser adolescentes que necessitam o tempo todo de reforço positivo.
Maria Bethânia em uma entrevista, ao ser questionada sobre suas rugas, disse que são suas cicatrizes, que são dela, que ela mereceu.
Que mereçamos nossas rugas e linhas de expressão e possamos aceitar que, embora não desejáveis socialmente, mulheres são proibidas de envelhecer, resistimos.
De cabelos grisalhos ou pintados, queremos mais do que desejo
E sim, estamos prontas para abandonar o olhar de desejo do outro, pois viramos objeto do nosso próprio.