Muitos querem crer que o impeachment da Presidenta Dilma será a salvação das almas dos pobres e da lavoura dos já enriquecidos que hoje escondem o dinheiro no colchão ou na Suíça. Não será! E por muitas razões: primeiro, os cortes no orçamento, se vier impeachment em 2016, serão mais robustos e, portanto, muito agudos.

Para conter o endividamento, o rombo no orçamento da República e sanear as “pedaladas fiscais”, os programas sociais serão ainda mais atingidos; sem contar o déficit na recomposição salarial dos servidores públicos. As pedaladas fiscais – retenção do dinheiro que deveria ter sido repassado aos bancos públicos – não alimentaram o Bolsa Família, mas sim o agronegócio e as demais empresas de médio e grande porte.

Não é de se acreditar que os oito por cento de aprovação do governo estejam garantidos na base do Bolsa Família. Quer dizer: apenas os beneficiados pelo programa dão seu aval à atual política econômica? Na verdade, quanto mais carentes desses parcos recursos públicos, menos escolarizados e mais suscetíveis ao clamor da manipulação midiática e política. Enfim, devem ser os mais atingidos e mesmo assim aprovam o fim da corrupção prometido pelo impeachment.

Não é essa verdade que se fará, no momento econômico que se seguirá ao atual estágio político. Os pobres de todo tipo serão, como já são, os mais atingidos pela recessão econômica e pelo deságüe dos recursos públicos e privados no sistema financeiro. Mais pobres, mais endividados em bancos.

Para conter o endividamento público, os mais pobres ficarão muito mais endividados e, é óbvio, a crise social será recordista. Os mais pobres são os que mais pagam impostos – ou mais sentem seus efeitos – e, já somados ao empresariado que não quer falir, são os que mais devem em bancos. Também os servidores públicos e seus consignados entram nesta longa fila de espera por dias melhores.

A receita do pacote econômico que se aplica hoje e que faz bolo para uns poucos, é a mesma que se verá no futuro pós-impeachment. O Estado não mais financiará o crescimento econômico. O fim desse modelo desenvolvimentista – a lembrar as hidrelétricas faraônicas, Copa e Olimpíadas, e os recordes de venda na “linha branca” de fogões e máquinas de lavar roupa – está à frente dos olhos. Porém, ficará sem lentes de proteção no dia seguinte ao impeachment.

Se é verdade que a indústria da construção civil é o termômetro do desenvolvimento – sem contar o trabalho escravo ali bem alojado –, então, o futuro imediato ao impeachment será de recessão ainda maior. Pois, sem dinheiro na praça, não haverá nenhuma banda se apresentando. A recessão inibe a circulação do dinheiro e causa desemprego, desaquece a economia e impõe menor arrecadação de impostos. Daí aumentar o déficit público.

A receita atual e futura – pois a atual faz inveja à futura –, para conter a inflação, aplica-se e aplicar-se-á com esmero na redução de dinheiro circulante e no não-endividamento do Estado: mesmo que esteja endividado para ajudar os ricos. O patrimônio das faculdades e das universidades privadas, nos últimos anos, não foi erguido com o dinheiro público do FIES?

Em todo caso, para conter a inflação, aumenta-se a recessão. Se compramos carne demais nesse período – porque pobre também gosta e precisa de carne, mesmo que seja frango –, limitemos as compras futuras. Assim, no futuro pós-impeachment, tanto quanto atualmente, quem deixará de comer frango? Os mesmos que recebem Bolsa Família e que nunca foram agraciados pelas pedaladas fiscais. Não é preciso ser economista para concluir que os pobres ficarão muito mais pobres. Também é fácil ver que a corrupção dos sonhos é a pior possível: no presente e no futuro econômico do impeachment.

Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

Marcos Del Roio
Professor Titular de Ciências Políticas da UNESP/Marília