Na semana passada a lista dos empregadores que recorrem ao trabalho escravo em seus empreendimentos econômicos recebeu bem menos atenção do que a lista dos beneficiados com propinas na Petrobrás. O jornalista Leonardo Sakamoto solicitou ao Ministério do Trabalho e Emprego informações sobre a fiscalização do trabalho escravo no território nacional. Recebeu uma extensa relação, bastante completa também, contendo nomes, CNPJ, infrações em estabelecimentos urbanos e rurais, estados e municípios, em que a escravização de trabalhadores amparava o lucro de empresas e de empregadores pouco afeitos à cidadania e aos direitos humanos. São mais de 400 casos somente na última década.

Região Sudeste

Aos indivíduos que costumam referir-se às regiões norte e nordeste do Brasil e aos seus habitantes de forma depreciativa, por blague ou convicção, vale a pena conferir os dados relativos à região sudeste. As informações são reveladoras. Há muita proximidade na proporção de recurso ao trabalho escravo em atividades urbanas e rurais. Os estados de Minas Gerais e de São Paulo concentram mais de 80% dos casos registrados na região. Os empregadores mineiros responderam por mais de 50% destas ocorrências. Os dados sobre São Paulo também surpreendem. Os empregadores paulistas que mais recorreram ao trabalho escravo estão, esmagadoramente, nas áreas urbanas. É nas oficinas de confecção e nos canteiros de obras que o trabalho degradante explode na terra dos paulistas.

Governo e cidadania
Nos últimos oito anos Minas Gerais e São Paulo foram governados pelo PSDB. Seria disparate apontar determinismo político e ideológico nos fatos. Já a perspectiva comparada é mais objetiva e segura. O Paraná também é governado pelo PSDB, desde 2010. Lá, 100% das ocorrências foram na área rural, em madeireiras, fazendas e na extração de erva-mate. Em Minas Gerais há ligeiro desequilíbrio nas áreas com registro de escravização do trabalho e predomínio nas atividades rurais. Em São Paulo prevaleceu a escravidão em atividades urbanas. Os dados indicam que, independente da atividade econômica – urbana, rural, ambas – nos três estados, sob governos do PSDB, há violação da liberdade e da igualdade. Eles ostentam, antes, o profundo descaso pela cidadania de sua mão-de-obra.

Na próxima semana o exame será de dados em estados governados pelo PT.