Os 60 anos da Faculdade de Ciências e Letras de Assis e da passagem de Antonio Candido, como professor de Literatura Brasileira, no curso de Letras, nos sugerem pensar os sentidos e valores da universidade pública e o significado cultural da presença de Antonio Candido, entre nós, no ano de seu centenário de nascimento.
A constituição e a propagação de instituições culturais no interior paulista, irradiadas a partir da criação da Universidade de São Paulo, em 1934, lançou bases novas para o desenvolvimento das Artes, Ciências e Humanidades em Assis. A instalação da Faculdade e a presença da Universidade representam um impulso contínuo, iniciado, aqui, em 1958.
A trajetória intelectual e profissional de Antonio Candido atesta o desenvolvimento do próprio pensamento individual e que resulta em um pensamento próprio, fazendo da liberdade intelectual uma fonte poderosa de emancipação humana. Em pouco mais de dois anos em que esteve à frente de cursos e atividades culturais na Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Antonio Candido consolidou a sua virada institucional em direção aos estudos literários. Em 1959, concluiu a redação e, logo, veio a público o livro Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos.
O esclarecimento da consciência e o vigor intelectual encontraram na literatura a possibilidade de viver outros mundos e de sentir outras emoções. A paixão por conhecer completava-se no manuseio dos livros, das ideias e das palavras. O exercício desta forma de liberdade fez dele um inconformista, no sentido pleno da palavra, de não perder a forma própria, de não submeter-se ou alienar-se, de não se deixar liquidar, brandindo e alimentando o espírito crítico.
A busca de um mundo de formas mais claras significa também a busca de um mundo mais “formoso”. Cada instante da vida torna-se fundamental naquilo que nos constitui como seres humanos, naquilo que nos conforma, nos dá forma. Ilumina-se aqui o elo entre a perene lembrança de Antonio Candido à sua passagem pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis e o seu interesse pela linguagem e a forma interior, a literatura, a poesia, as artes, que o levaram à revista Clima, que o trouxeram à Faculdade, em Assis.
Um elo que lhe permitiu identificar, com argúcia e propriedade, a existência de um autêntico “patrimônio interior”, ao rememorar a atuação dos modernistas junto ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e que pode nos ajudar a refletir sobre sentidos e valores na universidade pública no Brasil de hoje.
Disse Antonio Candido, em 1993:
o patrimônio para mim foi sobretudo uma questão de amizade e de afeto, uma oportunidade de convivência e conhecimento devidos a bons amigos. Mas bem sei que um estudo objetivo mostraria como esses amigos, e todos os funcionários que não conheci nem conheço, realizaram profissionalmente com a inteligência e o coração uma das obras mais notáveis que este país já viu.