Outro dia, por acaso, passei em frente à TV e pasmei. Não que não goste de ver TV, mas a visão de um médico dizendo para tomar banho de gato foi demais.

Naquela hora até comentei uma besteira qualquer.

Tempos depois, sozinho, pensei em outras grandezas relacionadas: vamos virar astronautas, sem poder tomar banho.

O discurso higiênico era básico: o sabonete envelhece a pele.

Ótimo, pensei eu, vou economizar usando sabonete apenas nas chamadas – assepticamente – “áreas de cheiro”.

Área de cheiro só não é melhor do que “morador de área livre”: o mendigo.

Já viu um morador de área livre que tenha ali escolhido seu recanto, sobretudo, para se safar do IPTU?

(Aí já são duas coisa distintas: uma é a casa grátis, no meio fio; a outra é o livre-arbítrio: o cara quis morar lá. Planejou desde criança. É uma grandeza a mente do brasileiro nato, aquele filho da gema.)

O que temos em comum com a medicina asséptica (e escrevo isso sem nenhum conhecimento na área) é o eurocentrismo. Gostaríamos de viver na Europa, mas temos de agüentar o calor dos trópicos.

Todo mundo que é branco neste país ou passa por europeu (meio pardo, meio parvo) ou gostaria de morar no Velho Continente.

“Mas como?” , me dirá você. É fácil, basta retificar o raciocínio:

– Esse médico – como a infinita maioria deles – é branco, caucasiano, rico e mora na região sul/sudeste do Brasil.

O mesmo médico, jogasse um futebol de areia nas praias fantásticas do Nordeste, não tomaria banho nos braços, pernas e rosto uma vez por semana. Me lembrou Cabral chegando ao Brasil. Já pensou? Dá-lhe banho!

O doutor poderia mudar de opinião, se tivesse de viver um ano na Amazônia. Melhor ainda se fosse Manaus.

Também poderia morar em cidades em que a água é salobra ou ainda em outras em que não há água (e muito menos médicos).

Será que conseguiria ficar sem se lavar, só cuidando das áreas de cheiro?

Mas, olha só, área de cheiro não lembra nome de perfume?

Malditos trocadilhos do marketing, fazem a gente esquecer do que estava falando.

Sim! Lembrei! O doutor que economiza sabão. E aí talvez esteja a receita para salvar o Brasil.

Com o problema da dengue parei para pensar de novo.

Podemos usar o sabão que sobrar para matar as saúvas que detonavam a lavoura desde o tempo de Monteiro Lobato ou para poluir a água do mosquito Aedes.

Será que o doutor já tinha pensado nisso?

Se bem que, a Prefeitura de Marília vai acabar com a dengue proibindo que se divulguem dados sobre as (5, 35,70?) mil pessoas contaminadas.

Será que o mosquito da dengue (ou o morador de área livre) tem área de cheiro?

Talvez a medicina tenha coisas mais importantes para pensar, num país tão sujo.