No ano passado o jornalista argentino José Natansonpublicou o livro O milagre brasileiro.Visto de lá o Brasil impressiona. Atento,ele não se deixa iludir. Há tempos que Natanson conhece o Brasil e os brasileiros. Em viagens privadas e profissionais ele já esteve com lideranças empresarias, sociais, governantes e estudiosos. Viveu a sociabilidade cotidiana das ruas. Para os vizinhos latino-americanos o Brasil é potência mundial em ascensão. As perspectivas de soberania energética e alimentar são os grandes trunfos, dizem. A estabilidade econômica e política aliada às conquistas sociais na última década são igualmente admiradas. Os dados da Cepal indicam que 35 milhões de brasileiros ingressaram no mercado consumidor e houve a queda de 50% da pobreza. A transformação social do Brasil só não foi maior porque a violência urbana e a baixa qualidade dos serviços públicos seguem inabaláveis. É leitura que vale a pena, alivia a alma, renova as esperanças.
De costas para o meio ambiente?
As políticas ambientais são escassas e superficiais na Argentina. Lá, como aqui, o modelo econômico é a principal fonte da tragédiae dos problemas ambientais. O desmatamento e a expansão do cultivo de soja, sobretudo a transgênica, comprometem, dia após dia, a qualidade e a disponibilidade de recursos hídricos no país vizinho. A Secretaria do Meio Ambiente, destinada a atuar em âmbito nacional, pouco contribui para impedir e corrigir a degradação, visível e consciente. As ações do Estado limitam-se à ênfase na conduta dos indivíduos, absolvendo, na prática, toda e qualquer responsabilidade social e ambiental dos governantes, em escala nacional, regional e local. A perpetuação do quadro existente completa-se com a omissão do Estado. Este patrocina a ilusão de que atitudes e condutas individuais são suficientes para alcançar mudanças sociais efetivas nas condições ambientais da Argentina atual.
Ética e história indígena
A crueldade e a perversidade social contra os povos indígenas que habitam a Argentina e o Brasil aproximam os doispaíses. A Rede de Investigadores em Genocídio e Política Indígena na Argentina busca promover o debate histórico sobre a violência do Estado nacional contra as populações nativas. A Rede desenvolve pesquisa e divulgação pública que contestam o negacionismo que omite, denigre, oculta e discrimina a presença indígena na vida social e na história argentinas.Na década de 1870 a Campanha do Deserto resultou na matança e na apropriação de terras indígenas. As tropas nacionais praticaram, sistematicamente, prisão, tortura, humilhações e desaparecimento de lideranças indígenas. O rapto de crianças recém-nascidas, a sua entrega a família de militares e a morte dos pais foram cometidos largamente. Atitudes que, cem anos depois, a ditadura militar argentina voltou a praticar, desta vez, contra todo e qualquer adversário político, atingindo mais de 30 mil pessoas.