Anísia era uma menina muito, muito pobre. E bonita. Ajudava a mãe e seus quatro irmãos menores ajudando a mãe com serviços domésticos e lavando roupa para fora. Mas era uma menina alegre, e bonita. Ela contava que tentou se candidatar à Rainha do Milho na mais tradicional festa da cidade. Mas que não não haviam deixado aquela menina pobre, ainda que bonita, participar. Esse fato é até hoje contestado pelos patenses que a acusam de vitimismo.
Anísia, já mais crescida, juntou suas coisas e veio sozinha para a recém criada Taguatinga trabalhar em casa de patroa para ajudar sua família. Trabalhou em casa de patroa, trabalhou em loja na W3, até juntou um dinheiro e trouxe a família toda para um humilde barraco de madeira com teto de zinco em Taguatinga, o barraco da foto.
Mas a danada da menina, além de trabalhadora era muito admirada pelas patroas que teve. Cresceu, virou mulher e ficou mais linda: loira, alta com 1,72m, alegre, simpática e, para quem nunca teve educação formal, bastante inteligente. Até que chegou seu dia de conto de fadas:
Estava ela lá no Clube da Área Alfa de Taguatinga, do pessoal da Marinha, trabalhando como babá, quando as amigas da sua patroa, impressionadas com a beleza da moça (e cheias de ciúmes de seus maridos), não duvidaram em chamá-la para representar o clube no concurso de Miss Brasília 1967. Precisava vencer as 17 concorrentes de toda a cidade! E realmente não foi fácil. Não pela sua beleza, mas porque alguns jurados torciam o nariz para aquela menina muito pobre que, em caso de vitória representaria Brasília no mais importante concurso de beleza do país. Mas com toda a sua beleza era impossível dar o título para outra concorrente.
Chega o grande dia do Concurso Miss Brasil 1967. Maracanãzinho lotado. O público, impactado com a beleza de Anísia e também com uma matéria da revista Manchete que contava sua história de menina pobre, logo elegeu sua favorita. Mas, infelizmente, sob imensas vaias da platéia, deu Miss São Paulo. Anísia amargou a quarta posição. Ou seja, não representaria o país em nenhum concurso internacional, o que somente as três primeiras fariam.
Sobre o fato escreveu Justino Martins no principal coluna de opinião da Revista Manchete:
“As vitórias não precisam de explicação, mas no concurso para a escolha de Miss Brasil 1967 houve uma grande vitoriosa, a Miss São Paulo, e uma única derrotada, a Miss Brasília. Nem a primeira acreditava na vitória que o júri lhe deu, e nem a segunda, a Miss Brasília, apoiada pelo público inteiro do Maracanãzinho, esperava a derrota que lhe coube.” e continua: “Se o povo vota com o coração na mão, os jurados só enxergam os moldes clássicos da beleza”. Até hoje a derrota de Anísia é considerada a maior injustiça da história do concurso de Miss Brasil.
Passado tudo isso, a bela Anísia voltou a sua vida em Taguatinga e a um novo emprego na Secretaria de Turismo do governo do Distrito Federal. Lá conheceu e depois se casou com um rico empresário goiano, Waldomiro Carneiro de Souza e mudaram juntos pra Goiânia. O casal teve uma filha, Karyna de Souza.
Em 1977, Anísia volta para Brasília, agora para morar numa elegante casa no Lago Sul. Virou empresária de estética e de moda, dona de uma boutique no Fashion Mall e na QI 15 do Lago Sul, segundo contam amigos.
Nossa Gata Borralheira, Anísia Gasparina da Fonseca, morreu no dia 16 de junho de 2024 aos 77 anos.
*João Vicente Costa, o JVC, já fez de tudo um pouco: músico (5 Generais, Banda 80), DJ, programador musical, produtor de eventos, dono de bar (Bizarre), dono de restaurante (Antigamente). Hoje, administra pizzarias e há seis anos coleciona histórias não contadas de Brasília e adora compartilhar para os amantes da cidade nos grupos Memórias de Brasília e Bsbnight no Facebook
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Fonte: Nacional