O Brasil sempre foi um país muito violento, em toda sua história. Matou-se e se mata muito, de um modo ou de outro. O tempo passa, muito se fala, escreve-se ainda mais, e parece que não saímos das letras mais garrafais dos Cadernos do Cárcere brasileiro.
É o poder branco – aquele mesmo – que não admite nenhuma mudança fora da lógica da propriedade das coisas e das pessoas. Mudamos as leis, mas a (bio)ideologia da Casa Grande comanda o extermínio da senzala.
Ainda teremos muitos “tempos duros” de coronéis e de capitães do mato, com mais e mais mortes violentas dos “capitães da areia”. No fundo, tem-se a sensação de que nunca admitiremos “o negro no mundo dos brancos”.
O que também traz a noção de que não efetivamos a Revolução Burguesa, no sentido mais liberal, tradicional, pois não há um Estado com Direito, ao menos não para todos que são sujeitados ao latifúndio, ao trabalho escravo, à expropriação de sua cultura, de suas terras.
Esse é nosso modernismo, o mesmo que não nasceu em 1930. E nessa crônica não dormiremos, porque, passe o tempo que passar, “os donos do poder” não fazem leis ou mudanças estruturais que não sejam para os ricos. Ou, se há tais leis, são aplicadas vagarosamente, seletivamente para deter os de sempre.
É um coronelismo moderno, fala várias línguas – menos a língua do povo -, tem apartamentos em Paris, onde estudam nosso caminho (sic). Daria para fazer uma crônica só com títulos de livros que contam ou remontam nossa “teoria da dependência”, como um futuro que é passado.
Nesta toada, nunca seremos, enquanto povo, sujeitos de fato. De Zumbis a Amarildos, é a história do “brasil” que se recusa a ser maiúsculo. Do nordeste dos coronéis para São Paulo, a diferença é que a elite quatrocentona paulista se alinha a cartéis, substituindo os matadores de aluguel pelo Poder Público. Leia-se: polícia.
Além de mudanças profundas no eixo da sociedade civil, a fim de que o sistema financeiro não bata mais recordes de lucratividade, enquanto milhões de brasileiros(as) são lançados à total indigência, é urgente pensarmos uma polícia para a sociedade.
Uma formação bem diferente da que temos hoje, teria três eixos fundamentais:
1) Técnico (técnicas, armamento: perícias);
2) Jurídico (tem de ser “legalista”, ainda mais hoje em dia, com profundo conhecimento da lei e do Estado de Direito);
3) Humanista (disciplinas e práticas de convivência que reforcem conteúdos de ética, direitos humanos, convivialidade: a exemplo da Polícia Comunitária).
Isto não seria a salvação da lavoura e da miséria humana que se alastra pelo Político, pelo Poder Público e na sociedade civil. No entanto, também não seria uma mentira, faz de conta, panacéia ou ideologia barata para mostrar serviço na eleição seguinte.
Em vários, em quase todos os momentos, é mais importante investir no cidadão do que na compra de viaturas que muitas vezes não saem da garagem por falta de combustível ou de motorista qualificado. Ou, quando saem, é preciso saber que sua principal função não é matar.