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Cantor preso com quadrilha de falsificação de cigarros; ações em SP e três estados

Cantor preso com quadrilha de falsificação de cigarros; ações em SP e três estados

Uma quadrilha de falsificadores de cigarro foi presa nesta quarta-feira (20), durante a Operação “Sem Filtro”, deflagrada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil do Paraná, com acusados também em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. O cantor Rafael, da dupla Fábio e Rafael, foi preso acusado de participação nas fraudes.

A operação descobriu duas fábricas clandestinas que produziam os cigarros falsificados e prendeu 13 pessoas, além de três foragidos. Em 19 mandados de busca foram apreendidos uma BMW, o ônibus usado por uma dupla sertaneja de Londrina, celulares e documentos que serão analisados dando sequência ao trabalho policial.

De acordo com a investigação do Nurce, que durou um ano, o chefe desta quadrilha é Clodoaldo José de Siqueira. Aldo, como ele é conhecido, pai do sertanejo, que em 2000 foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2000 pelos crimes de contrabando, depois de ser preso com várias caixas de cigarros contrabandeadas do Paraguai em uma Kombi. Até hoje, os únicos bens em seu nome foram essa Kombi e um reboque, ano 2005. Apesar disso, movimentava uma fortuna.

“Hoje em dia ele é dono de um império – são duas fábricas e duas gráficas”, afirmou o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita

As investigações demonstram que Aldo parou de contrabandear cigarros do Paraguai e passou a produzir em território nacional, eliminando assim o produtor e intermediários. Toda estrutura para a fabricação é feita pela organização, desde a compra da matéria prima, a falsificação dos papéis, a fabricação dos cigarros e o transporte do produto final. Todas as condutas são aparelhadas pela mesma organização, sem intermédio de terceiros.

“A estimativa é de que apenas uma máquina produza 10 mil maços por dia. Sendo assim, a estimativa de sonegação de tributos federais seja de R$ 90 milhões ano. A receita vai levantar o patrimônio localizado nas buscas e a ideia é garantir esse credito tributário e reaver um pouco do dinheiro arrecadado”, explicou a auditora fiscal da Receita Federal de Minas Gerais, Viviane Lopes Franciscani. 

De acordo com o delegado do Nurce, Renato Figueiroa, a quadrilha era basicamente dividida em três núcleos: o da fabricação do cigarro, que ficava inicialmente na Bahia e depois se transferiu para Minas Gerais; o das gráficas, concentradas em São Paulo; e o da lavagem de dinheiro, na cidade de Londrina. Aldo era a única pessoa que tinha ciência de toda logística envolvendo a produção e comercialização da fábrica clandestina de cigarros.

“Um ano de investigações onde conseguimos comprovar que a pessoa de Clodoaldo José de Siqueira, ex morador de Londrina, é o líder de uma grande organização criminosa, a qual possuía gráficas no estado de São Paulo, onde são confeccionados os papéis e plásticos para a montagem dos maços de cigarros”, explicou Figueiroa.

As investigações apontam que os recursos ilícitos eram lavados por intermédio da empresa F&R produções artísticas, a qual agencia uma dupla sertaneja em que um dos cantores é filho do chefe da quadrilha. Dez paraguaios trabalhavam de forma irregular nas fábricas clandestinas.

A residência em que Aldo mora e onde foi preso, em um condomínio de alto padrão na cidade de Santana do Parnaíba, interior de São Paulo, está avaliada em R$ 3 milhões. A quadrilha comprou seis terrenos em um condomínio de luxo em Londrina. Em um único dia, 17 de novembro de 2015, Aldo comprou os imóveis por R$ 6,5 milhões. O pagamento foi feito em dinheiro.

As fábricas clandestinas ficariam na cidade de Montes Claros, sócio e proprietário oculto de oito barracões em São Paulo onde funcionam as gráficas que a quadrilha utiliza para a falsificação das embalagens dos cigarros, e ainda sócio na empresa F&R Produções LTDA, que tinha como principal atividade a divulgação da dupla sertaneja. 

A polícia suspeita de que Aldo montou uma megaestrutura para promover seu filho Rafael na música sertaneja. Segundo o Nurce, era uma forma encontrada para lavar o dinheiro obtido de forma ilegal com a produção e venda de cigarros falsificados. Apesar dos poucos shows do filho, toda a estrutura de funcionários da F&R era bancada por Aldo. Rafael detinha 79% das ações da produtora.

Mesmo com pouca capacidade financeira, recentemente Rafael adquiriu um veículo importado modelo “BMW 320I M SPORT ACTIVFLEX” por R$ 173,8 mil. Quatro meses após a compra da BMW, os investigadores descobriram mais uma aquisição de Rafael: um ônibus Volvo/MPolo Paradiso LDR, que era usado por uma grande dupla sertaneja do Brasil. O valor pago foi de aproximadamente R$ 300 mil.

O ônibus, assim como a BMW de Rafael, está entre os bens apreendidos, pelo Nurce por decisão judicial. Ao todo são 19 veículos, entre eles caminhões, usados pela quadrilha para transportar os cigarros falsificados, e veículos de luxo como moto Harley Davidson, Land Rover e Toyota Hillux. Além dos automóveis, foram bloqueados ainda os cinco terrenos comprados por Aldo em um condomínio de luxo em Londrina no valor de R$ 6,5 milhões.

Por ordem judicial, ainda foram bloqueadas as contas bancárias de quatro pessoas e de duas empresas. A Operação “Sem Filtro”, que aconteceu em dez cidades de quatro estados do país, reuniu pelo menos cem policiais, além de 31 fiscais da Receita Federal. Participaram da ação policiais civis do Nurce, do Cope, do Tigre, Nuciber, da DFR, e da subdivisão de Londrina, além da Polícia Civil de São Paulo, com apoio do GOE (Grupos de Operações Especiais), da Bahia e de Minas Gerais.

PRESOS

Além de Aldo e Rafael, foram presos ainda Jairo Luiz May, tio de Clodoaldo e considerado um “faz tudo”. Percival Colatrella Gomes, proprietário e sócio de duas gráficas com Aldo. Outro detido é Daniel Alves de Oliveira, que respondia pela fábrica de cigarros na Bahia agora pelas fábricas de Minas Gerais. Ele é homem de confiança do chefe da quadrilha. Foi quem recebeu carta branca para comprar duas fazendas em Montes Claros para a organização montar duas fábricas de cigarro.

Cloy Borges Reitmann, preso na operação, seria o responsável por emprestar a conta bancária para Aldo injetar recursos na F&R Produções. Além disso, cedia o nome para transferir veículos e telefones. De acordo com a investigação, só em 2015 Cloy movimentou pouco mais de R$ 1,4 milhão.

O casal Mateus Saldanha Fabbri e Juliana Franchello Ortiz tem relação direta com a F&R Produções. Ele figura na empresa como sócio, dono de 20% das ações. Juliana é responsável pela contabilidade. A suspeita da polícia é de que eles se beneficiam do dinheiro de Aldo injetado na produtora. Recentemente o casal adquiriu dois apartamentos em área nobre da cidade de Londrina.

Luana Aparecida Figueiredo de Souza foi presa suspeita de ser sócia de Aldo na fábrica na Bahia. Ela era mulher do sócio de Aldo, mas com a morte dele, Luana assumiu a função. Foi quem convenceu o líder da quadrilha a mudar o endereço das fábricas de cigarro da Bahia para Minas Gerais, pois suspeitava de que seriam descobertos pela polícia.

Cristiano Figueredo de Souza, irmão de Luana, é o contato principal que Daniel tem entre os operadores das fábricas e foi quem ajudou na mudança da fábrica para Minas Gerais. Ele continua foragido.

Adriano Meira de Souza, vulgo “Diga”, é cunhado de Luana e trabalha diretamente na fábrica. Ajudou no transporte de maquinários para a nova fábrica.

Valdenir Walk seria um dos motoristas que transportam cigarro falsificado da fábrica de Aldo. Reginaldo Alves, conhecido como “Tilica” seria o responsável por chefiar uma das gráficas do chefe da quadrilha, no estado de São Paulo. Já Alexandre Basilio Torres e Demócrito Tenório de Oliveira (foragido) teriam envolvimento com a fabricação das embalagens dos cigarros falsos. Também está foragido um homem de apelido Peru, que trabalhava em uma das fábricas e fugiu junto com Cristiano Figueredo de Souza.