Dia do meio ambiente

Água, aquecimento global, biodiversidade, desmatamento, mudanças climáticas, orgânicos, sacolinha verde, sustentabilidade, transgênicos… O vocabulário do meio ambiente é amplo e traduz tantas realidades novas e antigas, aguardadas e rejeitadas, que faz do debate ambiental, dos atores sociais e dos cidadãos que, heroicamente, tentam compreende-lo e agir, algo distante de difícil acesso e desestimulante.

O termo ecochatos não revela apenas a necessária perseverança militante, mas também as dificuldades e a aridez de muitas das discussões e polêmicas sobre o meio ambiente.

Políticas públicas participativas, cidadania e transparência ativa são instrumentos da vida democrática e fazem do debate de ideias instrumento incontornável, se quisermos minimizar a corrupção, o autoritarismo e a violência contra a qualidade de vida, a liberdade individual e coletiva e a diversidade social, cultural e biológica no planeta.

 

Ditadura e mitos do progresso

O embaralhar dos debates, o vocabulário hermético e a multiplicidade desconexa de opiniões técnicas há muito constituem recursos para o esvaziamento e a manipulação da tomada das decisões na esfera pública. Ainda não há outro remédio para a gestão democrática e a preservação das diferenças que não passe pelo debate franco e aberto de interesses, de perdas e ganhos, que iniciativas aparentemente inquestionáveis impõem ao conjunto da sociedade e do meio ambiente.

A ditadura militar no Brasil foi pródiga em proclamar o caráter universal de suas realizações ao mesmo tempo em que censurava a imprensa, calava os opositores, ameaçava os críticos e perseguia os movimentos sociais. Foi assim com a Transamazônica, Itaipu, as usinas nucleares em Angra dos Reis, a expropriação das terras indígenas, entre 1964 e 1985.

 

Tecnocracia e sustentabilidade

Hoje, o Estado democrático e o reconhecimento dos direitos humanos fazem dos grandes projetos de crescimento econômico alvos fáceis da crítica e do repúdio social. Na impossibilidade do recurso à censura, repressão, a desinformação e o discurso tecnocrático, público e privado, operam como mão do gato na promoção de ações e de empreendimentos que implicam em consequências nefastas para o conjunto da sociedade e para grupos sociais isoladamente. As chamadas “obras de infraestrutura” pulam das pranchetas como medidas inescapáveis e inadiáveis.

Os danos e riscos ambientais e sociais surgem como simples fatalidades… O séquito de efeitos colaterais é dissimulado, ignorado e simplesmente abandonado em nome da continuidade das obras, face aos gastos já realizados, quando das exigências e denúncias do Ministério Público, de ONGs e da imprensa. A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, é o caso recente, emblemático e paradigmático. A sustentabilidade ambiental, social e econômica é reduzida a pó diante do poder e de valores monetários ostentados por investidores nacionais e estrangeiros.