O desabamento de parte da Ciclovia Tim Maia, em São Conrado, na zona sul do Rio foi causado por falha de projeto, de acordo com o engenheiro civil e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, membro da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas. Duas pessoas morreram no acidente.
A ciclovia, inaugurada dia 17 de janeiro, custou R$ 44 milhões. Um trecho de aproximadamente 20 metros da obra desabou. Perícias aéreas e terrestres já foram realizadas e outras ainda serão realizadas, quando a maré baixar.
“Não foi considerado o efeito da onda sobre a parte inferior da passarela, que fez com que ela tombasse. Aquele trecho é diferente dos demais, tinha apenas uma viga central. Como os apoios eram muito próximos um do outro sobre os pilares, a força de içamento do lado que onda bateu ficou mais engrandecida”, explicou.
“Quem fez o projeto não levou em consideração o efeito dessa onda, embora a premissa de um projeto sejam as considerações e combinações de carga”, acrescentou.
Para ele, os cerca de quatro quilômetros da via devem passar por nova análise. “Tem que ser feita uma análise de todo o projeto, a memória de cálculo, para tranquilizar a população. Talvez tenham subestimado o efeito da onda, não tenham considerado a maior onda, que é uma estatística. Há ondas que ocorrem de cem em cem anos, mas devem ser consideradas, e um fator de segurança deve ser aplicado.”
O engenheiro disse que não houve valorização do trabalho de engenharia estrutural. “O preço dos projetos às vezes é muito aviltado, reduzindo prazos e isso acaba influindo na qualidade do projeto. Em engenharia estrutural, não pode haver riscos, pois os riscos ocasionam mortes; às vezes, várias mortes.”
O prefeito Eduardo Paes chamou de imperdoável o acidente e determinou a apuração imediata dos fatos. Ele estava na Grécia para o acendimento da tocha olímpica ontem (21) e voltou ao Brasil antes do previsto. Ele fará uma coletiva de imprensa ainda hoje (22) sobre o caso. Ainda não há horário definido.
Técnicos trabalham no local
A Fundação Geo-Rio, da prefeitura, vai contratar perícia independente para emitir parecer sobre o desabamento. Uma primeira inspeção técnica no trecho de 26 metros da estrutura da ciclovia que desabou foi feita nesta manhã. Devido às más condições do mar, nova análise deverá ser feita depois que o nível da água permitir.
A prefeitura informou ainda que toda a extensão de 3,9 quilômetros (km) da ciclovia foi vistoriada e a estrutura está preservada, sem risco iminente. Por medida de segurança, a Avenida Niemeyer segue interditada ao tráfego, pois as ondas continuam atingindo a pista.
CUSTOS
Os reparos serão executados pelo Consórcio Contemat/Concrejato, responsável pela construção, sem ônus adicionais ao município, pois a ciclovia ainda está na garantia de obra. A Avenida Niemeyer permanece interditada ao tráfego e o Corpo de Bombeiros continua as buscas no local.
O consórcio informou que está estudando as causas do acidente. O consórcio que venceu a licitação disse ainda que todo o processo foi supervisionado pelos órgãos de fiscalização competentes e que a empresa segue todos os protocolos e normas de segurança, utilizando-se das mais modernas técnicas e equipamentos de construção.
A estrutura da ciclovia no trecho é composta por elementos pré-moldados concebidos por sobrecarga total prevista em norma de 22,5 toneladas. Os três pilares estão apoiados em fundações fixadas à rocha.
Vítima
O corpo do engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, será velado amanhã (23) Crematório Memorial do Carmo, no bairro do Caju, zona portuária do Rio. Dois corpos ainda permanecem no Instituto Médico-Legal (IML) e devem ser liberados ainda pela manhã.
O engenheiro Eduardo Albuquerque era corredor e fazia sempre o trajeto da ciclovia. Ontem (21), antes de sair de casa, ele deixou um bilhete para o filho de 15 anos: “Vou correr. Volto já. Te amo”.