O ataque à reputação da jornalista Patrícia Campos Mello , na CPMI das Fake News e no Twitter do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), levou mulheres, de veículos de norte a sul do país, a assinar manifestos em repúdio às difamações contra a repórter. O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP_) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estão entre os políticos que apoiam a repórter.
Em sua conta oficial do Twitter, Frota disse que o mínimo que deve ser feito é um pedido de desculpas. “Quero ver se alguém se referir assim a mulher dele se ele vai gostar”.
O mínimo que o embaixador da Disney deveria fazer era se desculpar .Mas é muito p ele. Quero ver o dia que alguém se referir assim a mulher dele se ele vai gostar. @camposmello @monicabergamo @juliaduailibi @veramagalhaes Vera parabéns pela iniciativa.A @camposmello Tem meu apoio pic.twitter.com/JW3N5OlMNR
— Alexandre Frota 77 (@alefrota77) February 12, 2020
O presidente da Câmara disse, também via Twitter, que “atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria”.
Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei.
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) February 12, 2020
Entenda o caso
Hans River do Nascimento , um ex-funcionário da empresa Yacows, afirmou, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito, que a jornalista se “insinuou sexualmente”a ele em troca de uma reportagem, de outubro de 2018, sobre disparos em massa via Whatsapp, durante a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência. Hoje as redações do país são compostas por mais de 60% de profissionais mulheres.
Eduardo Bolsonaro , filho do presidente da República, reproduziu as declarações de Nascimento em seu Twittter, e, mais tarde, no plenário da Câmara. “Fiquei aqui perplexo em ver, mas não duvido, que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans (River, ex-funcionário da Yacows), em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”, disse Eduardo.
A reação das jornalistas ganhou corpo após nota da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) que criticava a postura do ex-funcionário da Yacows e a postura do deputado.
O presidente da Abraji, Marcelo Träsel, lembra que esse não é um caso isolado. Para ele, essa é uma estratégia para desacreditar os fatos. O site da Abraji publicará um manifesto das mulheres.
“Eles procuram fazer campanha para desacreditar os fatos desacreditando o repórter. Nesse caso, um deputado federal se colocou como cúmplice de um caso de machismo contra uma profissional extremamente reconhecida por sua atuação profissional. É um óbvio exemplo de misoginia. Aos ataques na rede seguem sucessivos comentários machistas, que tentam descredenciar a repórter. Há toda uma massa de bots, de blogueiros que reproduzem isso. Eduardo Bolsonaro se tornou cúmplice de mais uma grave ataque à imprensa”, disse Träsel.
O presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, se pronunciou através de nota sobre o assunto.
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“É lamentável que um depoimento em CPI repleto de inverdades seja usado para atacar a honra de uma repórter que fez o seu trabalho de trazer à luz práticas eleitorais questionáveis. A tentativa de intimidar e deslegitimar o jornalismo profissional é uma das práticas típicas de autocracias”.
Não é a primeira vez que Patrícia Campos Mello é atacada. O assédio começou com a publicação da reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT pelo Whatsapp”, assinada por ela, também na Folha. O texto da nota já publicada no site da Abraji lembra que Patrícia é uma das jornalistas mais respeitadas do país, cobre relações internacionais e direitos humanos há décadas.