O jornal O Estado de São Paulo teve acesso à fatura sigilosa do cartão corporativo do presidente Jair Bolsonaro , onde identificaram um aumento dos gastos no primeiros quatro meses de 2020, mesmo descontado valor da viagem da Força Área Brasileira (FAB) para repatriar os brasileiros em Wuhan, que foi financiada com o cartão do presidente.
Bolsonaro desmentiu a imprensa em reunião com apoiadores em frente ao Palácio do Planalto alegando os gastos elevados eram oriundos das viagens. O presidente afirmou ontem pelo Twitter que utilizou R$ 739.598, via cartão corporativo, com os três voos para a Chiina em fevereiro deste ano.
“3 aviões da @fab_oficial, vinculados à Presidência, foram à China buscar brasileiros em Wuhan. Na operação foram gastos R$ 739.598,00 com cartão corporativo. Ao contrário do noticiado, retirando despesas extraordinárias, nossos gastos seguem abaixo da média de anos anteriores”, postou Bolsonaro.
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A reportagem do Estadão apontou que o presidente gastou R$ 3,76 milhões neste ano, segundo informações do Portal da Transparência. Os gastos de Bolsonaro representam um crescimento de 98% em relação à media dos últimos 5 anos.
Mesmo ao abater os gastos com as viagens ao país asiático, Bolsonaro ainda gastou R$ 3 milhões com despesas sigilosas, valor que representa aumento de 59% em relação à média do que gastaram os ex-presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer.
Deputados de diferentes partidos, como Kim Kataguiri (DEM-SP) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), cobraram de Bolsonaro que revele como gastou o dinheiro público via cartão corporativo. Vinicius Poit (Novo-SP) apresentou um requerimento de informações para a Presidência da República.
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A assessoria de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pela gestão dos cartões corporativos, revelou que parte das despesas estão relacionadas às viagens do presidente dentro e fora do país, mas não paresentaram mais detalhes.
Bolsonaro sempre foi um crítico ferrenho do sigilo nos gastos corporativos, em 2008, em discurso na Câmara, ainda como deputado (na época filiado ao PP) desafiou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a “abrir os gastos” com o cartão.
No entanto, o presidente mantém em sigilo com o que gastou. Durante a transição de governo, Onyx Lorenzoni, responsável por coordenar o grupo, afirmou que a gestão Bolsonaro acabaria com o uso dos crtões corporativos. Bolsonaro diz que não pode revelar os gastos pois estaria colocando a vida em risco.