Uma competição no estilo “Master Chef” envolvendo 15 merendeiras de escolas públicas brasileiras, selecionadas por diferentes regiões do país a partir de critérios técnicos, irá premiar com uma viagem e uma quantia em dinheiro a melhor profissional que, durante o ano letivo, prepara as refeições para centenas ou milhares de crianças.
É o Merendeiras do Brasil, um reality show de iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que foi apresentado nesta terça-feira (8) em coletiva de imprensa em Brasília.
O programa, dividido em oito episódios, será gravado e posteriormente exibido aos domingos no canal aberto RedeTV. Mas, durante dado momento do evento de divulgação da iniciativa, o assunto ficou um tanto quanto ofuscado.
Durante o lançamento do programa, nesta terça-feira, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, chamou atenção ao dirigir-se às merendeiras afirmando que, além da questão alimentar, é um papel delas, também, o cuidado para que as crianças não sejam “incentivadas” a mudar de gênero. Ele definiu a educação sobre diversidade sexual para alunos de 6 a 10 anos como uma “coisa errada” e que os “violenta”.
“Nós não vamos permitir que a educação brasileira vá por um caminho de tentar ensinar coisa errada para as crianças. Coisa errada se aprende na rua. Dentro da escola, a gente aprende o que é bom, o correto, o civismo, o patriotismo. Por isso que tem um grupo da população que infelizmente me critica, mas tenho certeza que as merendeiras, mães, avós estão comigo. Eu quero cuidar das crianças. Não vou permitir que ninguém violente a inocência das crianças nas escolas públicas. Esse é um compromisso do nosso presidente. Não tem esse negócio de ensinar: você nasceu homem, pode ser mulher. Respeito todas as orientações. Mas uma coisa é respeitar, incentivar é outro passo”, disse o ministro, escapando do tema do reality show, diante das participantes.
Ribeiro citou o país laico ao justificar que respeita as diferenças, e disse não ter vergonha de ser contrário à educação sexual de gênero às crianças nas escolas. Também relembrou processo que corre no STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República, que investiga se ele foi homofóbico em declarações de 2020, quando dentre outras coisas ligou a homossexualidade a famílias desajustadas.
“Eu respeito, e tenho dito isso. Mas não vou permitir que, com crianças de 6 a 10 anos, um professor chegue e diga que se ela nasceu homem, se quiser pode ser mulher. Isso eu falo publicamente, mesmo. Por isso que meu processo já está lá no STF. Não tenho vergonha de falar isso. Não tenho compromisso com o erro. Temos que respeitar todos, nosso país é laico, mas tenho certeza que as merendeiras do Brasil que cuidam das crianças também têm esse cuidado todo especial. Não apenas com o que se come, mas com o que se aprende intelectualmente”, completou.
O programa
Além do ministro, participaram do lançamento o presidente do FNDE, Marcelo Ponte, e a coordenadora-geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Karine Santos. De acordo com o MEC, a seleção das participantes foi feita com base em seus desempenhos no PNAE. São três mulheres de cada região do país, que representam cidades como Mogi das Cruzes (SP), Vassouras (RJ), Maracaju (MS), Sorriso (MT), entre outras. Elas serão submetidas a diferentes provas culinárias, num formato parecido com o dos realities do gênero já conhecidos do público.
“Nós estamos representando mais de 300 mil merendeiras do País. O trabalho vai além de preparar a comida para as crianças. É um ato de amor, carinho e afeto. Podemos contar inúmeras histórias de crianças que têm a merenda como sua principal refeição diária e criam conosco uma relação de afeto e lembranças que ficam pela vida toda. Nós agradecemos por essa oportunidade e já nos sentimos vencedoras por estarmos aqui”, disse a merendeira Geralda de Oliveira Leite Silvano, de Mogi das Cruzes (SP), durante o lançamento do programa.
“Voltaremos para casa já nos sentindo valorizadas profissionalmente e, com certeza, com muito aprendizado”, acrescentou.
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Confira o nome das participantes:
Centro-oeste
Juliana de Souza, de Rubiataba (GO) Adriele Samuel, de Maracaju (MS) Neuza Pasinato, de Sorriso (MT)
Nordeste
Magnólia Gonçalves, de Sobral (CE) Maria de Lourdes dos Santos, de Lucena (PB) Marilene Pires, de Teresina (PI)
Norte
Maria Nilza, de Marcehal Taumaturgo (AC) Alzenira Costa, de Carreiro (AM) Vanda Carqueiro, de Carcoal (RO) Sudeste
Geralda de Oliveira, de Mogi das Cruzes (SP) Elza Maria, de Vassouras (RJ) Rosangela de Fátima, de Campo Belo (MG) Sul
Alaia Silveira, de Maravilha (SC) Rosani Juste, de Itati (RS) Elisa Cristina, de Capitão Leônidas (PR)
Na onda do reality
Além delas, quem deve acabar tendo seu momento durante o programa, exibido em TV aberta, é a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que tem sido lançada como uma carta na manga do presidente Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de diminuir a rejeição entre as eleitoras mulheres em ano de eleição presidencial. A informação sobre a possível participação dela no reality foi dada pelo próprio ministro da Educação, que revelou ter convidado a primeira-dama para ser uma espécie de madrinha do programa.