A ida de Lula para o ministério da presidenta Dilma mantém olhos fixos na Operação Lava Jato e simplifica a compreensão do momento político. Uma espécie de caça à raposa que pode culminar no encurralamento pelos perseguidores. No percurso notícias de sucessivos sacrifícios dos protocolos judiciais. O debate político foi reduzido a um jogo adolescente de perseguição e despistamento, guiado pela astúcia dos contendores. A política nunca é restrita a poucos indivíduos. Há imprensa, partidos, cartunistas, parlamento e muitos outros.
O exame da democracia de massa surgiu no mesmo momento de sua constituição, o século XIX. O jornalismo político é um esforço para compreender e explicar o sentido das ações de governantes aos governados. Historiadores franceses estudaram as disputas, governos, partidos, ideias, líderes, eleições e conflitos. Foi neles que Marx pescou o termo e a luta de classes como unidade básica da análise política da democracia na Europa.
A nossa vida política nacional não escapou a tais desígnios. A massa de ex-escravos, de imigrantes europeus, centenas de operários nas ruas das cidades. Como educa-los para a participação política? Anarquismo, liberalismo, socialismo, comunismo, corporativismo, fascismo. Também aqui as correntes doutrinárias dedicaram-se a tal tarefa. O desafio: como controlar e conduzir politicamente as massas?
Filósofos e dirigentes acenaram para sindicatos, escolas, partidos, artistas, imprensa, militares. Céleres aprenderam que a força na democracia de massa residia na capacidade de mobilização e de desmobilização social, da marcha e da contramarcha pelos interesses das diferentes classes sociais. Quem e quando mobilizar, quem e quando desmobilizar e, principalmente, com qual objetivo?
Ausência ou presença social nas ruas compõem a história das democracias. Elas indicam a hora de avançar e de recuar nos conflitos, segundo os objetivos dos contendores. O deputado federal Alessandro Molon (Rede/RJ) alertou: alcançado o objetivo da remoção do PT no controle do Estado brasileiro, PSDB e PMDB partilhariam o espólio político, empalidecendo as investigações da Lava Jato. Ambos têm dirigentes na mira da Justiça. A queda do governo Dilma não seria o fim de uma era, mas o início de nova conciliação pelo alto, com mobilizações decorativas e sem resultados morais amplos e efetivos.
Lula no ministério desorganiza este roteiro. Desperta paixões, divide opiniões. Complica a conciliação e não permite o descarte fácil e rápido do PT.