Apontado pela polícia como um traficante violento que não costuma evitar confrontos, Adriano Souza de Freitas, o Chico Bento, ainda não ocupa um lugar na cúpula da maior facção criminosa do Rio. Porém, foi escolhido pelo grupo criminoso para ficar à frente do tráfico da Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, onde o comércio de drogas movimentou, em dois anos, pelo menos R$ 30 milhões.
No último dia 4, a polícia deflagrou uma ação contra um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico da comunidade, que, entre 2019 e 2021, usou contas bancárias de pequenos comércios locais para movimentar o dinheiro.
Um dos investigados no esquema é Marcos Vinicius da Silva, o Lambari, que já cumpriu pena de mais de dez anos por tráfico de drogas e mora atualmente em Natal, no Rio Grande do Norte.
Ele e é suspeito de receber dinheiro do bando de Chico Bento para, supostamente, ter acesso a parte do lucro do tráfico da comunidade.
Adriano Souza Freitas também foi principal alvo de duas operações da polícia, realizadas em menos de um ano, que juntas somaram 36 mortos. A primeira ocorreu em maio do ano passado, quando 28 pessoas morreram no durante uma ação da Polícia Civil, no Jacarezinho. A outra aconteceu, nesta sexta-feira, durante operação deflagrada pela Polícia Militar e pela Polícia Rodoviária Federal, na Vila Cruzeiro, que deixou um saldo de oito mortos, além de apreensão de fuzis, maconha, cocaína e carros roubados. Como ocorreu ano passado, o traficante conseguiu mais uma vez escapar.
A escolha de Chico Bento pela comunidade como local de esconderijo não foi à toa. Apontada pela polícia com uma espécie de porto seguro do crime por conta da forte presença de traficantes armados, a Vila Cruzeiro também abrigaria parte da cúpula da maior facção criminosa que está em liberdade ,apesar da existência de mandados de prisão em seus respectivos nomes.
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Entre os bandidos do primeiro escalão da facção, suspeitos de estar abrigados na favela, que faz parte do Complexo da Penha, estão Wilson Carlos Quintanilha, o Abelha, que deixou o Complexo de Bangu, dia 27 de julho, mesmo com a prisão decretada, e Edgar Alves de Andrade, o Doca. Os dois têm as prisões decretadas pela justiça e são considerados foragidos.
A presença de bandidos de outros pontos do Rio na Vila Cruzeiro foi confirmada mais uma vez , nesta sexta-feira. Informações preliminares revelam que dois dos oito mortos seriam de uma favela de Duque de Caxias. Por enquanto, eles teriam sido Identificados apenas pelos apelidos de TH e Cotonete.
Segundo a polícia, Chico Bento fugiu para o Complexo da Penha no dia 19 de janeiro, quando policiais iniciaram a ocupação do Jacarezinho por conta da instalação do Programa Cidade Integrada. Na ocasião, os agentes chegaram a localizar, na comunidade, uma casa onde o traficante morava, um imóvel de quatro andares com itens de luxo.
Chico Bento foi preso em 2016, mas em março de 2018, ele ganhou direito ao regime semiaberto, saiu do Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói, e nunca mais retornou. Em um relatório da Polícia Civil, que norteou a operação no Jacarezinho, em maio do ano passado, o traficante é apontado como aliciador de menores para o tráfico. ” A estratégia baseia-se na impunidade, uma vez que os soldados das quadrilhas com menos de 18 anos, escudos para os bandidos mais velhos, estão sujeitos a medidas socioeducativas e não são encarcerados – o que é visto, obviamente, como vantajoso pelos chefes do crime”, diz um trecho do documento.
Além de Chico Bento, outro integrante da quadrilha do Jacarezinho também estaria escondido na Vila Cruzeiro. Felipe Ferreira Manoel, o Fred, tem em seu nome pelo menos três mandados de prisão expedidos Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Segundo as investigações, ele ocupa o segundo lugar na hierarquia do trafico do Jacarezinho.