Notícia bacana são os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que acontecerão em Palmas – Tocantins, de 18 a 27 de setembro deste ano. Além da representação de 22 etnias nacionais, deverão estar presentes atletas de outros 30 países, como México, Austrália, Canadá, Paraguai, Peru, EUA: muitos acham que não há mais índios por lá.

O mais importante nesse evento é que o ouro olímpico é totalmente amador e está ligado à vida natural, tanto quanto possa ser, de cada participante. Por isso chamei de Ouro Verde. Todos os índios participantes já são vencedores, na verdade, são sobreviventes.

São grupos inteiros que sobreviveram às formas de colonização e de avanço do capital sem fim. No Brasil, ainda sobrevivem nas fronteiras verdes, as áreas de natureza que violentamente são dragadas por madeireiros, posseiros e por capatazes do agronegócio.

Infelizmente, a ação predatória contra os recursos naturais também é uma ação mortífera em relação às populações indígenas. Milhares foram assassinados nos últimos anos, suas lideranças têm a cabeça a prêmio … assim como suas mulheres e filhos pequenos. Sem contar o alcoolismo, o suicídio coletivo e as epidemias viróticas plantadas pelos “desbravadores” do século XXI.

O Brasil – desconhecedor da capacidade de energia eólica, por exemplo – é extremamente atuante no critério da política desenvolvimentista, sob a análise das hidrelétricas em Rondônia e no Belo Monte – norte do Pará, bem como na proposição da Ferrovia Transoceânica.

Esta ferrovia começará no Rio de Janeiro, atravessando a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes, para terminar na costa peruana. Qualquer coincidência com a ferrovia Transcontinental Express – EUA, ligando a costa leste ao oeste bravio do século XIX, não será mera semelhança. Em comum, há o massacre das populações indígenas, o trabalho escravo (lá os chineses, aqui nem daria para contabilizar). Será outra Madeira Mamoré? Se sair do papel, só o futuro dirá.

No Brasil, esta ferrovia em especial vai afetar, desalojar, eliminar índios isolados. Portanto, em que pesem competições tradicionais, como a de pontaria em tiro de arco e flecha, a vitória maior dos povos indígenas vem do senso moral e da justiça coletiva. Porque, com certeza, irão conversar sobre suas vidas ou, melhor dizendo, condições de sobrevida.

Foi-se o tempo do Quarup, narrado com brilhantismo ímpar por Antonio Callado, as festas do Xingu, a celebração da paz entre os grupos e a mensagem fundamental em defesa da vida coletiva; porém, deveria ser leitura obrigatória no ensino médio.

Hoje, ainda podemos escrever sobre os índios no Brasil, mas não se sabe por quanto tempo. E com o sumiço deles – guardiães da floresta – haverá o pior desfecho para a natureza e, com o desterro do natural, certamente, será o fim de todos.

Sem nada fazer de sério para preservar a vida indígena, no final das contas, o mito será a pura realidade para nossos descendentes.